Paulo Paiva

Professor associado da Fundação Dom Cabral, Paulo Paiva escreve às sextas-feiras

Paulo Paiva

Oração de Natal

Publicado em: Sex, 24/12/21 - 03h00

Nesta noite de Natal, do oriente ao ocidente, renascerá o mestre dos mestres, a luz das luzes, o guia da fé e da verdade, de cujos olhos vívidos resplandecerá nas estrelas do céu o brilho da esperança. Neste Natal, quando tu, Menino Jesus, em uma simples manjedoura, simultaneamente em todos os cantos da terra, renasceres, poderás, então, fazer reviver a esperança nos homens e mulheres.

Poucas vezes precisou-se tanto de tua luz. O individualismo, a ganância, a ambição pelo poder e pela riqueza estão destruindo o planeta, aumentando a desigualdade social e cerceando as liberdades. Em poucos anos, as riquezas naturais não mais suportarão o consumo desenfreado, e a economia não mais crescerá diante de tamanha concentração de riqueza. A ética do utilitarismo está subvertendo a ética da virtude.

Poucas vezes o mundo precisou tanto de tua luz para transformar ódio em amor, guerra em paz, conflito em entendimento, egoísmo em fraternidade, discriminação em solidariedade, tirania em liberdade, iniquidade em justiça.

Humildemente, peço-te, Menino Jesus, que olhes para teus irmãos brasileiros. Nosso país vive tempos sombrios, tempos de intolerância e de ódio; de exclusão econômica e social; de pandemia ceifando vidas; de instabilidade política e de crises econômica e social que apagam os sonhos e as esperanças das pessoas que, assim, estão deixando de enxergar o futuro.

Humildemente, peço-te que olhes para teus irmãos brasileiros. Não somente para aqueles que na noite santa terão suas ceias plenas de alimentos e champanhes, que com alegria e sorrisos largos distribuirão abraços e beijos e oferecerão presentes para seus entes queridos, demonstrando-se agradecidos pela vida que levam; mas, sobretudo, peço-te que olhes para os que não têm o que celebrar nessa noite, os excluídos do progresso e da liberdade.

Rogo-te proteção para aqueles que perderam seus parentes e amigos na pandemia e para todos que perderam sonhos e esperanças; para os que ficaram sem emprego e sem renda; para os que foram jogados nas sarjetas das ruas sem abrigo; para as mulheres que continuam sendo violentadas e descriminadas em um país que esconde o machismo; para os negros descendentes dos escravos, que, sofrendo ainda a crueldade da escravidão, são discriminados e, portanto, aos quais é negado o acesso à ampla liberdade; para as crianças que não têm como ir à escola e para os jovens, impelidos a deixá-la para ajudar no sustento da família, trocando o futuro por um subemprego mal pago; para os que sofrem, sufocados e violentados, em razão de suas opções de vida; e para aqueles que, sem tua proteção, serão assassinados nos próximos anos. Olha por eles, Menino Jesus!

Peço-te, por fim, que derrames sobre o Brasil, em abundância, as luzes da solidariedade, justiça e dignidade.

 

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