PAULO PAIVA

Pouco restou para Temer

Ganhou, mas não levou, e verá crescer a estrela de Rodrigo Maia

Por Da Redação
Publicado em 29 de outubro de 2017 | 03:00
 
 

Temer continuou, e o sonho acabou. O sonho de justiça de quem ainda crê ser possível combater a corrupção neste país; o sonho de quem acredita que as leis devam ser iguais para todos; o sonho de quem esperava antecipar o fim do governo Temer; o sonho de vingança de quem jamais aceitou o impeachment de Dilma; o sonho de vingança de quem identificou as digitais de Temer na retirada de Dilma.

Na votação do segundo pedido de afastamento de Temer, viu-se como serão as campanhas políticas do próximo ano sem a condenação dos políticos incriminados: corrupto denunciando a corrupção do outro. “Macaco escondendo o próprio rabo para falar do rabo alheio”.

Tudo começou em maio de 2005, quando foi revelada a cena de um funcionário dos Correios recebendo propina de empresários. Já se passaram 12 anos desde que eclodiu o escândalo do mensalão, no primeiro governo Lula, e nada efetivamente mudou na esfera política.

Em 2014, veio à tona um novo escândalo. A operação Lava Jato revelou o mais amplo e sofisticado processo de corrupção sistêmica envolvendo um duplo cartel: de empresas, que se juntam para fraudar licitações na Petrobras; e de partidos políticos, que indicam seus prepostos para dirigir a empresa visando arrecadar vultosas propinas.

Quando as investigações da Lava Jato estavam em curso avançado e a economia, em recessão profunda, aliados de então do governo Dilma valeram-se da situação para unir-se à oposição e aprovar o impeachment dela. Formou-se uma nova coalizão sem a esquerda.

Contudo, nada mudou. Mesmo com as investigações da Lava Jato em andamento, a administração Temer não mudou eticamente o comportamento do governo. Ao contrário, manteve as mesmas práticas, como evidenciam as entregas de malas com dinheiro para assessor do presidente e para primo de senador. Condenar os métodos usados pelos delatores dessas operações não desqualifica as provas incontestes de ilicitude.

Mais um esquema de corrupção foi revelado: dando propinas para líderes políticos, empresários compram medidas provisórias, leis e decisões estratégicas do governo. Ademais, um tesouro perdido de cerca de R$ 51 milhões foi encontrado em apartamento sob a guarda do ex-ministro Geddel Vieira Lima. É difícil crer que todo esse dinheiro lhe pertença.

Agora, como seu governo adquiriu mais uma sobrevida, Temer tentará virar a página e iniciar um novo período com medidas impactantes na economia, esquecendo seu passado. Ledo engano. Os votos que obteve para determinar o arquivamento do pedido de licença para sua investigação são insuficientes, por exemplo, para aprovar a reforma da Previdência Social.

Sem apoio popular e politicamente enfraquecido, Temer ganhou, mas não levou. Verá crescer a estrela do avalista do que restou de seu mandato, Rodrigo Maia, que comandará a pauta da Câmara e, por consequência, a pauta legislativa do governo. Isolado no Palácio do Planalto até passar a faixa presidencial, muito pouco lhe restará para fazer.