Paulo Paiva

Professor associado da Fundação Dom Cabral, Paulo Paiva escreve às sextas-feiras

Que década foi essa?

Publicado em: Sex, 03/01/20 - 03h00

Ufa! 2019 ficou para trás. Foi o final de uma década? Uns acham que a década de 2010 terminará no final deste ano, outros, que acabou em 2019. Mais uma incerteza nestes tempos de tantas outras incertezas. De 2010 a 2019 muitas coisas aconteceram. Qual o saldo de tudo isso?

Focando a economia, foi uma década perdida. O crescimento exuberante de 2003 a 2010 transformou-se na mais longa e profunda recessão, nunca antes vista neste país. A gestão desastrada e irresponsável do governo Dilma jogou a economia na recessão. A recuperação tem sido pífia. O volume de trabalhadores subutilizados supera 26 milhões, e a renda per capita equipara-se à de 2010. Uma década perdida.

Focando a política, foi uma década muito profícua, de mudanças profundas sinalizando ganhos expressivos. Na busca feita em um lava a jato em Brasília, foi, por acaso, desvendada a maior trama de corrupção jamais imaginada. A operação Lava Jato desnudou práticas de conluio entre políticos e executivos de grandes empresas que assaltavam o Tesouro Nacional. Políticos de todos os partidos relevantes, agentes públicos e empresários estavam envolvidos, muitos presos e condenados pela autoridade implacável do juiz Sergio Moro. A política foi colocada em xeque, os partidos políticos perderam relevância.

Conectando pessoas e divulgando notícias, reais ou fake news, as mídias sociais passaram a influir na dinâmica da política. As manifestações de junho de 2013, iniciadas com de um episódio considerado insignificante – o aumento das passagens do transporte coletivo na cidade de São Paulo –, tomando as ruas do país, foram um grito de alerta.

Uma onda de insatisfação, que corria mundo, havia chegado ao Brasil. Basta! Era o alerta. A democracia representativa nunca mais seria a mesma. Mas os políticos não entenderam o que estava ocorrendo.

As eleições municipais de 2016 anteciparam o que estava por vir. Os eleitores rejeitaram políticos tradicionais e partidos, elegendo aqueles que se diziam contrários à chamada “velha política”, embora ninguém soubesse dizer o que seria a “nova política”. Cresceu a rejeição ao PT e à corrupção.

Os ânimos se radicalizaram, a temperatura se elevou, o ódio e a intolerância dominaram as opiniões e as atitudes da população, estimulados pelas mídias sociais, cujo papel na eleição presidencial foi fundamental para a vitória de Bolsonaro, eleito turbinado pela rejeição ao PT e à corrupção.

Agora, esses dois polos opostos energizam perigosamente a política e põem em risco a democracia. O país entrou em uma fase de transição. Expulso o velho regime, o novo ainda não chegou. Sem partidos relevantes, a ameaça é prevalecer a hegemonia do populismo: bolsonarismo x lulismo. São tempos de incertezas.

O lado positivo é que um novo regime está por ser construído; que a sociedade assuma essa construção e a democracia saia fortalecida.

 

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