Paulo Paiva

Professor associado da Fundação Dom Cabral, Paulo Paiva escreve às sextas-feiras

Paulo Paiva

Um mundo de joelhos

Publicado em: Sex, 12/06/20 - 03h00

Enquanto o Brasil perde energia e credibilidade discutindo se o número de mortos é ou não é verdadeiro, se cloroquina salva ou mata, se a culpa do desemprego é dos governadores e prefeitos, se a mídia está mentindo, ou se há excesso de informações negativas sobre a crise para derrubar o governo, 90% dos países mundo afora estão se afundando na maior recessão desde a que ocorreu na Segunda Guerra Mundial, conforme observa Jerome Power, presidente do Fed, o Banco Central dos Estados Unidos.

Ao longo desta semana, várias instituições multinacionais revisaram para baixo suas estimativas, apontando para o agravamento da recessão mundial, porque a pandemia foi mais profunda e será mais extensa do que se imaginava até o início de março.

Kristalina Georgieva, gerente geral do FMI, em discurso para a Câmara de Comércio norte-americana, afirmou que houve radical reversão nas estimativas de sua instituição, que, em janeiro, acreditava para este ano crescimento sincronizado em 160 países e, agora, vê profunda recessão, sincronizada também, em 190 países. E acrescentou que nunca antes na história se viu tamanha destruição da renda de tanta gente em tão poucos meses. De repente, uma emergência sanitária abateu a produção e o consumo em escala global e empobreceu todos os países.

Relatório do Banco Mundial mostra que, desde 1870, ocorreram 14 recessões mundiais, nove das quais até 1946. Nas décadas de 50 e 60, nenhuma ocorreu. A partir de então, tem havido uma a cada década. A recessão atual gerou mais incertezas e medo porque se desconhece sua extensão e os remédios para curá-la.

Enquanto, no mesmo relatório, o Banco Mundial estimava retração mundial de 5,2%, a OCDE divulgava suas previsões, com a mesma gravidade, indicando forte queda de 6,0% na economia global, no cenário básico, e de 7,2%, no cenário considerando um repique na pandemia até o final do ano. Para o Brasil, a estimativa do Banco Mundial é de -8%, e a da OCDE varia entre -7,4% (no cenário básico) e -9,1% (no cenário com o repique). Há muito tempo o mundo não chegava a essa situação caótica de paralisação generalizada na produção e no consumo, e de aumento do desemprego e da pobreza.

Países, como o Brasil, que apresentam desigualdade, vulnerabilidade social e fragilidade fiscal, serão os que sofrerão maior impacto e terão menores condições para combater a crise, unicamente com seus recursos.

A economia brasileira foi afetada seriamente pela ruptura das cadeias globais de suprimentos, pela queda da demanda e dos preços das commodities, inclusive do petróleo. Não haverá saída isolada.

Se as autoridades e as lideranças brasileiras não se conscientizarem de que se trata de uma gravíssima crise global e não se unirem solidariamente, considerando a necessidade de articulação interna e de cooperação internacional, as consequências serão ainda mais trágicas do que as que já estão à vista.

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