Paulo R. Haddad

Professor emérito da UFMG e escreve às segundas-feiras em O Tempo

Fim da recessão econômica ou espasmos de crescimento?

Publicado em: Sáb, 09/09/17 - 03h00

Nos últimos três meses, houve a divulgação de um conjunto de indicadores que têm dado a sensação de que a recessão ficou para trás. Os níveis de emprego, de compras no varejo, de superávit na balança comercial inflexionaram positivamente. Esses e outros resultados têm de ser analisados com extremo cuidado para que não sejam vendidas ilusões para uma população desalentada.

Como termina uma recessão econômica que se aprofundou durante os últimos três anos? São pelo menos três indicativos de que ela pode estar, eventualmente, chegando ao fim. Primeiro, é preciso que haja uma reversão de expectativas entre os agentes econômicos. Para os trabalhadores, essa reversão expressa-se pela redução de desemprego no período e pela ampliação do campo de oportunidades. Para os empresários, mostra-se quando aumenta o número de encomendas e de vendas.

Segundo, torna-se necessário que os níveis de incertezas relativos ao futuro político-institucional e às regras do jogo prevalecentes no sistema econômico sejam reduzidos. A maioria das decisões de investimento e de consumo depende de se eliminar a percepção de futuros caóticos ou totalmente imprevisíveis para a trajetória econômica. Esses agentes são racionais na formação de suas expectativas e aprenderam que não se pode confiar nos compromissos de governos sem legitimidade política e contaminados pelo vírus da corrupção administrativa.

Finalmente, um ciclo de expansão econômica não é implementado sem que seja precedido por um conjunto de reformas microeconômicas e institucionais que favoreçam a mobilização persistente das potencialidades econômicas, a eliminação dos pontos de estrangulamento e a inserção competitiva na economia global. Esse ciclo não se confunde com eventuais espasmos de crescimento. Se eles forem de baixa intensidade e não apresentarem taxas de expansão superiores ao crescimento demográfico, os valores per capita serão negativos, sinalizando que a recessão ainda está incomodamente viva. Num ciclo de expansão, a economia cresce consistentemente duas ou três vezes a mais do que o aumento da população.

Num país com imenso potencial de crescimento como o Brasil, pela diversidade e pela diferenciação em sua estrutura produtiva, sempre haverá alguma região ou setor produtivo em expansão. Tudo dependerá da conjuntura econômica global, da estabilidade macroeconômica, da promoção industrial de setores dinâmicos, do uso adequado dos instrumentos e dos mecanismos de política econômica etc. É muito difícil que tudo isso esteja fora do prumo simultaneamente.

Assim, algum crescimento virá ao mobilizarem-se segmentos e dimensões desse gigante econômico. Num trimestre, poderá ser a expansão induzida pelos efeitos de espraiamento da cadeia produtiva do agronegócio. Em outro, a expansão poderá ser alavancada pelo aumento do consumo familiar com a renda disponível incrementada pela redução do imposto inflacionário e reforçada pela redistribuição de recursos reprimidos de fundos financeiros institucionais.

Nesse contexto de uma economia que não apresenta suas veias abertas, vai configurando-se um comportamento de conformismo de nossas lideranças políticas e comunitárias com o status quo. Elas assistem ao declínio econômico, político e moral da nossa pátria, acomodadas nas benesses das políticas sociais compensatórias, na cornucópia da riqueza financeira, nos privilégios do acesso subsidiado ao Tesouro Nacional e aos ganhos velados e espúrios da representação política. Mas quem se importa?

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