Paulo R. Haddad

Professor emérito da UFMG e escreve às segundas-feiras em O Tempo

Minas e o momento Mitchell

Publicado em: Qui, 04/07/19 - 03h00

Desde 2014, a economia brasileira está vivenciando um longo ciclo recessivo, com a taxa de crescimento do PIB per capita próxima de zero. Quando se observa como a recessão rebate nas unidades da Federação, destaca-se, estatisticamente, que algumas economias estão crescendo razoavelmente no último quinquênio, enquanto outras se encontram em estado letárgico ou depressivo. Ou seja, num país com ampla diversidade estrutural, com suas economias locais e regionais diferenciadas, o ciclo econômico de uma economia estadual não é a réplica em miniatura do ciclo econômico. Economias estaduais cuja base é o agronegócio podem estar avançando, por exemplo, enquanto a própria economia nacional pode estar andando para trás. A melhor compreensão desse descompasso pode informar os governos estaduais sobre o que fazer para posicionarem suas economias acima da linha.

Em 1913, o economista norte-americano Wesley Mitchell publicou sua obra clássica sobre os ciclos econômicos. Desde então, até a sua morte, em 1948, procurou analisar as sequências que ocorrem em todas as reativações econômicas, períodos de prosperidade, crises e depressões. Para ele, todo o ciclo econômico, a rigor, é constituído de uma série única de acontecimentos e tem uma única explicação, porque é fruto de uma série de acontecimentos anteriores igualmente únicos em termos históricos amplos. O seu trabalho estimulou estudos e pesquisas sobre os ciclos econômicos, que são uma característica recorrente das economias capitalistas modernas.

Mitchell sempre procurou enfatizar que há setores e localidades que participam com maior ou menor avanço ou atraso dos benefícios de uma reativação econômica, ou das perdas e danos de uma desaceleração. Pelo menos até que o caráter cumulativo do ciclo se torne dominante na dinâmica geral da economia de setores e regiões. Se essa desaceleração é persistente e se prolonga no tempo, pode se caracterizar uma situação de decadência econômica generalizada, como ocorreu na depressão econômica de 1929.

Como explicar que para alguns setores produtivos e regiões a profundidade e a velocidade da desaceleração econômica poderão ser mais intensos do que em outros? Em primeiro lugar, o fator predominante será o rebatimento específico dos instrumentos da política econômica anticíclica que estiverem sendo adotados. Uma política monetária mais flexível, que resulte em menores taxas de juros, pode favorecer a capacidade de resistência à queda da demanda de setores produtivos de bens de capital e de bens duráveis de consumo. Consequentemente, as regiões em que as estruturas produtivas desses setores tiverem um peso maior poderão estar crescendo acima da média nacional, ainda que esse crescimento seja mais lento.

Se, por outro lado, se optar por uma desvalorização cambial visando a expandir as exportações de bens e serviços, é bastante provável que as empresas e regiões que se especializaram em atividades nas quais o país dispõe de melhores vantagens comparativas ou de vantagens competitivas poderão ter crescimento relativamente maior.

Assim, qual é o cenário mais provável para a economia de Minas nesta quadra da economia brasileira? O melhor cenário será aquele que soubermos endogenamente construir e implementar para o futuro do Estado. Assim, planejar é preciso.

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