PAULO HADDAD

O Brasil precisa de um projeto nacional de desenvolvimento

Políticos têm um comportamento casuístico e voluntarista

Por Da Redação
Publicado em 24 de março de 2018 | 03:00
 
 
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Nos últimos anos, os economistas têm se dedicado predominantemente a equacionar os problemas dos desequilíbrios fiscais e da insolvência financeira dos três níveis de governo através de políticas econômicas de curto prazo, associadas a um conjunto de reformas microeconômicas e institucionais. O pressuposto dessas políticas é a expectativa de que finanças públicas em equilíbrio, taxas de inflação típicas do mundo desenvolvido e endividamento público sob controle criarão um ambiente psicossocial favorável à retomada do crescimento e da geração de emprego.

Pensam, pois, que é desnecessário um projeto nacional de desenvolvimento, o qual, a partir de uma visão do país baseada num diagnóstico realista e atualizado sobre os problemas e as potencialidades do desenvolvimento brasileiro, possa promover um novo ciclo de expansão econômica e de progresso social. As forças desacorrentadas dos mercados, num ambiente de estabilidade monetária, de previsibilidade econômica e de estabilidade social, trarão a prosperidade para todos os grupos da sociedade.

Não há dúvida de que, no atual contexto da economia brasileira, quem faz o crescimento do país são empresários dinâmicos e inovadores, particularmente uma nova geração mais familiarizada com as exigências de informação e conhecimento das novas revoluções industriais e científicas. Mas esses empreendedores necessitam que se reduzam os graus de incerteza e de risco que dominam o atual cenário econômico e político do país. Não se pode limitar esse cenário às crenças e as atitudes de governantes que pensam modificar o curso dos acontecimentos apenas por seu alvedrio.

Keynes, o maior economista do século XX, foi um crítico cáustico desse comportamento casuístico e voluntarista dos dirigentes públicos. Lembrava que o principal objetivo da acumulação de capital ou de riqueza é produzir resultados ou resultados potenciais num período relativamente distante. O fato de que o nosso conhecimento do futuro é flutuante, vago e incerto torna muito difícil ter uma visão mais clara e responsável de como se distribuem consistentemente as perdas e os danos das decisões casuísticas e pragmáticas sobre os grupos sociais, as regiões e os setores no presente e no futuro.

A principal atribuição de se dispor, em um país, de um projeto nacional de desenvolvimento é, pois, a de ser um redutor de incertezas, tendo como apoio um processo de planejamento de médio e de longo prazo. Um planejamento mais indicativo, mais leve, mais exato, mais participativo. Quando falta uma visão de perspectiva sobre os interesses maiores da sociedade, os governantes vão priorizando os objetivos de desenvolvimento do país num zigue-zague de decisões oportunísticas e eleitoreiras.

Esse caminhar de curto em curto prazo lembra a história que se passou no sul da França, na Idade Média. Havia três anos que essa região agrícola enfrentava uma seca persistente, e a comunidade estava faminta. Alguém lembrou que, perto do povoado, havia um agricultor que tinha um porco muito gordo, tratado com carinho. Todos se dirigiram para essa propriedade. O agricultor, percebendo a intenção da multidão famélica, pegou o porco e o colocou no meio da sala e começou a atirar contra a multidão. Ao se movimentar de um lado para o outro, tropeçou várias vezes no porco, até que, impaciente, atirou o porco para fora da casa e exclamou: “Esse porco está atrapalhando a minha guerra!”

Moral da história: também na vida pública, o governante que não tem uma perspectiva ou um projeto de desenvolvimento para o país pode abandonar um objetivo de alta prioridade para o futuro da sociedade e saltar para qualquer outro por argumentos de ocasião. Pobre Brasil!