Paulo R. Haddad

Professor emérito da UFMG e escreve às segundas-feiras em O Tempo

Qual política econômica?

Publicado em: Qui, 31/12/20 - 07h00

A macroeconomia é o estudo da economia de um país ou de uma região em seu conjunto. 

Particularmente, esse segmento analítico da ciência econômica nasceu ao longo da crise econômica de 1929. A partir dos efeitos dramáticos da depressão nos anos 1930, procurou-se conhecer melhor a estabilidade dos preços e da inflação, a evolução trimestral do emprego e da renda, os problemas conjunturais do crescimento e da recessão de uma sociedade.

Com o triunfo da macroeconomia, os seus indicadores tornaram-se conhecidos no cotidiano da população e são apresentados frequentemente pelos meios de comunicação social: a taxa de desemprego, a taxa de inflação e a taxa de câmbio. Estes são os três macropreços que medem, no curto prazo, a saúde atualizada da economia em seu conjunto. E o curto prazo, do que se trata?

O papel do tempo na análise dos problemas econômicos sempre foi uma questão controversa. Em 1923, Keynes, o principal economista do século XX, procurava estabelecer uma noção clara do que seria o curto prazo. Para ele, no curto prazo, há um passado que já transcorreu e trouxe, para o presente, a acumulação de um estoque de capital físico (fábricas, áreas agricultáveis, infraestrutura econômica e social), um dado perfil de distribuição de renda e de riqueza, uma força de trabalho com diferentes qualificações, os fundamentos das instituições políticas e sociais, certo grau de degradação dos ecossistemas etc.

Assim, no curto prazo, as dificuldades que são encontradas em uma sociedade têm de ser equacionadas num contexto histórico, que é dado por decisões tomadas no passado e prevalecentes no presente.
Políticas macroeconômicas de curto prazo, que lidam com problemas conjunturais, devem ser operadas dentro das restrições impostas por um tempo histórico e irreversível.

É indispensável tomar essas restrições e condicionalidades como ponto de partida. Se, nos momentos tumultuados do presente, quisermos resolver graves questões econômicas com orientações estratégicas que somente são eficazes no longo prazo, como afirma Keynes, as políticas econômicas podem fracassar.

Assim, os problemas da inflação e do desemprego no início de 2021 não são uma questão que possa esperar pelas reformas político-institucionais, que somente trarão resultados no médio e no longo prazo. Para Keynes, isso equivale a apontar caminhos de tranquilidade que estão além de mares revoltos, sem demonstrar como é possível atravessar o quadro das dificuldades presentes preservando as conquistas realizadas.

Não podemos confundir condicionalidades com objetivos na formulação e na implementação das políticas econômicas. Qualquer que seja a política econômica adotada pelo governo federal, na atual crise financeira do Brasil, o ajuste fiscal com reformas político-institucionais é uma restrição ou condicionalidade a ser imperativamente superada.

Contudo, os objetivos efetivos dessa política devem estar relacionados com a retomada do crescimento econômico, com a melhoria na distribuição da renda e da riqueza entre famílias e regiões, com a conservação, a preservação e a reabilitação dos nossos ecossistemas.

Condicionalidades e objetivos não se confundem. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Afinal, qual é a política econômica do governo federal?

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