Pelo mundo

Josias Pereira é repórter do Super FC e escreve sobre futebol internacional, um espaço voltado inclusive às ligas alternativas mundo afora, variadas modalidades esportivas, como basquete, futebol americano, beisebol, dentre outras, além de literatura e turismo esportivo.

Fã de esporte

Beisebol: a saga do mineiro que tem como alvo conhecer os 30 estádios da MLB

Publicado em: Qui, 01/04/21 - 09h21
Francisco na casa do atual campeão da MLB, o Dodger Stadium, do Los Angeles Dodgers | Foto: Arquivo Pessoal

Hoje é o Opening Day,  a rodada de abertura da MLB, a liga de beisebol profissional dos EUA e a presença do Toronto Blue Jays, do Canadá. Mais uma oportunidade de ver como a indústria do esporte americano vai lidar com a pandemia ainda em curso do novo coronavírus. Com uma vacinação quase recorde e já com alguns estados liberando doses para adultos na casa dos 30 anos e até mesmo adolescentes a partir dos 16, os Estados Unidos vão abrir seus Ballparks, os famosos estádios do beisebol, para o público, cada um deles limitado a um certo número de espectadores de acordo com as determinações das autoridades locais. Uma diferença em relação à vastidão de cadeiras vazias da última temporada, que terminou em uma apoteótica e consagradora vitória do Los Angeles Dodgers.

E se é Opening Day e tem Ballpark no meio, nada melhor do que trazer a história de Francisco Campos, um alucinado por beisebol daqui de Belo Horizonte e que possui um projeto, na verdade um perfil no Instagram chamado “Home Run A viagem”, em que ele relata a saga de conhecer os 30 ballparks da Major League Baseball. Atualmente, a conta de Francisco marca 23 estádios visitados, um verdadeiro “ballpark chaser”, como são conhecidos esses “colecionadores” de experiência nos locais que guardam a verdadeira tradição de um dos esportes mais antigos e tradicionais dos Estados Unidos.

A história de Francisco com a modalidade, de certo modo, é recente. Começa ali em 2013, tendo como partida um ambiente comum para o fã dos esportes americanos, as transmissões da ESPN. Junta-se a este enredo de “caos”, uma singela homenagem ao narrador Rômulo Mendonça, um certo distanciamento do intrépido fã do futebol da bola redonda. É o que ele conta em entrevista.

"O meu interesse pelo beisebol surgiu quando eu passei a não gostar mais de futebol. Eu também nunca fui um fã assim, fervoroso, de futebol. Mas sempre gostei dos esportes americanos”, explica Francisco.

“O interesse pelo beisebol começou a surgir quando passei a assistir alguns jogos e entender as regras. Além de entender o jogo, tinha sempre as narrações do Rômulo Mendonça (da ESPN), que eram muito engraçadas e, às vezes, eu assistia aos jogos para ver as bobagens que ele falava. Mas à medida que eu comecei a me aprofundar no esporte, eu comecei a me interessar cada vez mais pelo beisebol”, acrescentou o nosso intrépido personagem.

Uma paixão que veio acompanhada pela admiração em relação à proposta americana de transformar esporte em espetáculo e entretenimento. Não deu outra. Francisco logo teve uma ideia e logo ligou o computador, começou a investigar os ballparks e deu no que deu.

“Sempre fui muito alucinado pela capacidade que o americano tem de fazer de um evento um espetáculo, seja no futebol americano, seja no beisebol, seja no basquete e tal. A partir daí, eu queria ir para ver isso de perto. Nunca  tinha viajado aos Estados Unidos e pensei, bom, é uma forma de viajar para o exterior, de ver um espetáculo desse e acompanhar um esporte que eu gosto. Estava gostando muito do beisebol naquele momento, ali por volta de 2013, 2014. Então decidi, “vou lá para os EUA ver um jogo desse”, relatou.

“Como eu não conseguia decidir qual jogo ir, eu resolvi conhecer os estádios porque sempre achei muito legal. Nas transmissões sempre dava aquela panorâmica do estádio e a gente vê as características bacanas dos locais, cada um muito bonito e com as suas particularidades. Conhecer os estádios foi uma forma que encontrei de ver os americanos fazerem o entretenimento, matar minha vontade de assistir um jogo in loco e também de viajar, conhecer os EUA e vivenciar essa cultura do esporte americano", acrescentou o fã da MLB. 

Os primeiros destinos 

Toda a história tem um início e a de Francisco não começou necessariamente pelos Estados Unidos. Já que o Canadá possui certas particularidades e a necessidade própria de visto, o apaixonado fã brasileiro da MLB travou sua primeira experiência em Toronto, conhecendo o Rogers Centre, a casa do Blue Jays. Depois disso, a viagem ingressou, de fato, em terras americanas. 

"Uma vez que eu decidi que visitaria os 30 estádios da Major League Baseball (MLB), sentei na frente do computador, peguei o mapa dos EUA, identifiquei onde estavam os 30 times e aí fiz uma divisão. Dividi pelo critério de proximidade e por etapas. Essa primeira etapa fiz com um amigo. Pensei comigo, ‘tem um estádio no Canadá e os outros 29 estão nos EUA’. ‘Vamos resolver o Canadá logo de uma vez e depois vamos fazer a coisa funcionar só dentro dos Estados Unidos’. Na época precisava tirar visto para o Canadá e outras especificidades. Por isso que meu primeiro estádio, meu primeiro ballpark foi no Canadá. A primeira etapa aconteceu em 2015 e ela envolveu Toronto. Depois nós fomos para Detroit, Cleveland e Cincinnati", citou Francisco. 

Do Rogers Centre até hoje são 23 estádios ou como são conhecidos Ballparks na conta de Francisco e múltiplas experiências com o melhor do que o turismo esportivo, voltado especialmente ao beisebol, pode oferecer a um verdadeiro ‘trailblazer’, em português ‘desbravador’. 

“Sempre quando a gente chega lá, os caras percebem o sotaque esquisito e perguntam de onde somos. A gente diz 'eu sou do Brasil'  e eles ficam surpresos: 'sério? Brasil!!”. Primeiro, eles acham muito bacana o fato de eu ser brasileiro e estar viajando por lá. Segundo, acham muito curioso o fato de um brasileiro se interessar pelo beisebol e não pelo futebol da bola redonda, ou como eles chamam ‘soccer’. Aí perguntam se tem beisebol no Brasil e eu respondo que tem, mas que é muito amador, pequeno. A pessoa no Brasil tem que fazer um esforço muito grande para jogar, os materiais são caros e tal. Eles se interessam muito em saber sobre isso, tanto é que eu fiz amizade, por exemplo, com um cara que produz guias digitais sobre os estádios. Ele mora na Filadélfia e eu fiquei na casa dele certa vez que fui lá”, apontou Francisco. 

Organização financeira

Conhecer tantos locais envolve um planejamento. E Francisco segue à risca o dele. Organizado financeiramente, o sonho tem um custo e para mantê-lo vivo também é preciso sacrifícios. Francisco os faz de bom grado, focando boa parte de seus ganhos para concluir a meta. Horas de pesquisa por promoções e também a certeza de que as entradas, ou seja, os ingressos para os jogos não são aquele ‘bicho de sete cabeças’ que muitos pensam. Pelo contrário.

"Custo é um negócio que eu tento não me apagar. Mas é claro que a gente tem limitações. Eu tento equilibrar de duas formas, a primeira é não gastando dinheiro com quase nada. Só com o que for necessário mesmo. Se eu não estiver precisando, eu não vou comprar. Black Friday de não sei o quê, por exemplo, não comprei nada. Mas, em compensação, o segundo ponto, eu aproveito promoções de passagem, tento ficar ligado na forma mais barata de conseguir hospedagem e a questão dos ingressos, ao contrário do que muitas pessoas pensam, não é caro. É bem barato assistir jogos por 15, 20 dólares. Os custos eu tento equilibrar, pesquisando as promoções e também economizando bastante durante o ano, deixando para gastar só com o essencial", ressaltou. 

O melhor e o pior 

Com tantos estádios na lista, Francisco pode se dar ao luxo de até mesmo elencar quais são os melhores e piores. Um ranking ingrato, mas que ele também não foge à missão de fazê-lo. 

"Eu tento não dar uma nota para eles. Eu participo de um grupo no Facebook que se chama ‘Ballpark Chasers’, igual tem aqueles caras do History Channel que são os ‘Storm Chasers’, que saem correndo atrás de tornado e tal, tem também os ‘Ballpark Chasers’. Esse é sempre um assunto muito polêmico por lá. O mais bonito que eu achei até agora foi o PNC Park, em Pittsburgh, que é a casa do Pittsburgh Pirates. Mas eu levo em consideração não só a beleza, mas a experiência que o estádio me proporcionou”, relatou. 

“O Pittsburgh Pirates é o mais bonito porque, uma vez que você está sentado lá, a paisagem que ele te mostra é muito bonita. Ao fundo, você tem o Skyline da cidade com os prédios, a ponte amarela, um rio que passa ao lado, então forma um conjunto muito bacana. Mas o local também te dá uma experiência muito legal porque as pessoas foram simpáticas comigo lá, os funcionários foram acolhedores. Quanto mais você vai para o interior dos EUA, mais bacana as pessoas são. O estádio me presenteou com um certificado de presença muito bonito também. Por enquanto, o PNC Park foi o mais legal”, ponderou Francisco. 

Mas há também uma, na verdade duas, digamos, decepções nesta intrépida saga. 

“O estádio que mais me decepcionou foi o Tropicana Field, que é a casa do Tampa Bay Rays. Mas eu já fui esperando, sabendo que ele era meio ruim. Não sei se foi uma decepção, mas foi quase que uma confirmação. Porém, ele tem pontos que eu acho positivo. É animado, mas só que é totalmente coberto. Apesar de ser meio mal cuidado, estava fazendo muito calor no dia e eu agradeci por ele ser coberto, de eu estar no ar condicionado, sem risco de chuva, que foi o que aconteceu no jogo da NFL que fomos naquela mesma semana. A partida foi interrompida por tempestades, algo bastante comum na Flórida. O estádio do Toronto Blue Jays também (foi uma certa decepção), porque é uma arena multiuso e só. O Tropicana Field tem a sua característica de ser esquisito, ser ‘feio’, mas OK. O outro (o Rogers Centre) é só uma arena também", opinou. 

Turismo esportivo ainda tem muito a crescer

Mas uma coisa é fato. O turismo esportivo, na visão de Francisco, tem ainda muito a crescer. Cada vez mais, pessoas o procuram nas redes sociais, especialmente no Instagram para saber detalhes de sua trajetória pelos Ballparks e até mesmo informações de como visitar e qual caminho tomar. 

"No Brasil, o turismo para o esporte podemos dizer que é praticamente zero. Agora o turismo para o esporte no estrangeiro é pouco, mas tem muito campo para crescer. A gente sabe de muita gente que vai aos EUA e assiste jogos de futebol americano, de basquete em Orlando, por exemplo. Mas, mesmo assim, tem muito campo de crescimento. Tanto é que muitas pessoas me mandam mensagem no Instagram me perguntando como é que faz, como é que funciona, e vários detalhes, inclusive que eu queria saber quando comecei a procurar informações para poder viajar”, destacou o fã de beisebol. 

O retorno de público aos estádios 

Como dito lá no início, a MLB inicia nesta quinta-feira, dia 1º de abril, com os estádios recebendo torcedores. Dependendo do estado norte-americano, até mesmo acima de 40% da capacidade total do Ballpark será liberada, como é o caso do Arizona Diamodbacks, que vai permitir 20 mil torcedores no jogo contra o Cincinnati Reds, no dia 9 de abril. Francisco vê a retomada com certo receio, mas celebra o fato de poder ver a volta dos torcedores, algo que faz parte da cultura norte-americana. 

"Eu estou um pouco receoso com essa retomada de público nas arquibancadas. Mas como eu não sou especialista em saúde pública e nem nada, eu imagino que o pessoal saiba o que está fazendo. A gente está vendo o March Madness (o campeonato de basquete universitário dos EUA) acontecendo com 25% de capacidade no ginásio e é um lugar fechado. A gente imagina que as coisas devam estar sendo feitas de forma consciente. Considerando que está tudo certo, tudo tranquilo, é melhor (ter a volta da torcida), dá uma emoção a mais. Dá uma certa aflição ver os estádios todos vazios durante os jogos. Os jogadores mesmo reclamam. Por mais que o pessoal coloque o som de torcida e tal, não é a mesma coisa. A organização da MLB teve essa resposta positiva durante o Spring Training, quando falaram que foi muito bom ter público nos estádios e poder ouvir as pessoas torcendo por eles de verdade", declarou Francisco. 

Um campo aberto para a retomada do planejamento do fã brasileiro. O braço está preparado para a vacina. E, com tudo certo, a partir de 2022, a saga será retomada. A próxima etapa está na ponta da língua e envolve uma aventura ainda maior em solo americano. 

"Eu já tenho programada uma etapa para o ano que vem. Se tudo der certo, eu devo ir com meu irmão e nós vamos visitar quatro estádios. Vamos fazer uma viagem enorme de carro por Houston, Dallas, Denver. Nós vamos cruzar o deserto todo de carro até chegar em Phoenix, no Arizona. Depois a gente volta para Houston ou então Dallas, e nossa intenção é seguir até Talladega, no Alabama, para ver uma corrida da Nascar. É uma viagem enorme, de carro, mas meu irmão gosta muito de dirigir, então a gente está com esse plano. Vamos ver, tomar a vacina, duas doses e poder viajar tranquilo", finalizou Francisco.

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