Pelo mundo

Josias Pereira é repórter do Super FC e escreve sobre futebol internacional, um espaço voltado inclusive às ligas alternativas mundo afora, variadas modalidades esportivas, como basquete, futebol americano, beisebol, dentre outras, além de literatura e turismo esportivo.

Coragem em meio ao silêncio

Publicado em: Seg, 21/01/19 - 15h24

"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem". A menção a Guimarães Rosa se encaixa . É necessário coragem para suportar o inexistente filtro que as redes sociais fomentaram. A insatisfação é um sentimento comum ao ser humano. Ficamos nervosos e irritados com diversos assuntos, inclusive quando os nossos times não se comportam da maneira que gostamos. Mas a linha entre a raiva e a ofensa hoje é tão tênue que não existem mais barreiras para disseminar o ódio e o preconceito. 

Por muitas vezes nos perguntamos o porquê de certas promessas das nossas categorias de base jamais vingarem. Mas o peso que lhes é imposto é tão grande que etapas são queimadas. O Cruzeiro vinha bem na Copa São Paulo até deparar-se com outra tradicional escola de base do país, a do São Paulo. Qualquer resultado que ali ocorresse seria normal, tendo em vista o nível das agremiações não só no Brasil, mas internacionalmente. Porém a pressa que imputamos a quem ainda está começando nesta jornada transformou o duelo em uma batalha pela vida. 

O atacante Leonardo foi eleito o vilão. Dois erros, inclusive um pênalti perdido, suficientes para trazer à tona a parte mais suja de uma sociedade que não possui limites e se esconde atrás de computadores e smartphones para propagar, talvez, a corrupção moral e o caráter doentio que invade suas almas. Um campo minado de ofensas que descambaram para o preconceito velado e o racismo nosso de cada dia. Para muitos, tudo não passa de vitismo.

Talvez um mantra para justificar aquilo que as pessoas consideram deslizes, que há tempos atrás não passavam de um linguajar comum. Mas o mundo mudou e não há como tolerar isso. 

Um garoto que ainda está se aperfeiçoando no esporte. Até profissionais cometem falhas como tal nos jogos mais decisivos de um título. E, podem acreditar, todos sentem. Ninguém erra porque quer. Um trauma que aliado ao discurso de ódio racial deixa cicatrizes profundas. O esporte é um perfeito campo para a reflexão da sociedade. Um dia depois do caso de Leonardo, o zagueiro Dedé, do Cruzeiro, um dos profissionais mais renomados do país, foi atacado de graça por um destes usuários das redes sociais. O racismo que não se acaba e atinge todas as classes sociais. 

É necessário ter coragem para viver em um mundo onde um garoto venezuelano durante um Campeonato Sul-Americano sub-20 de futebol é chamado de "morto de fome" por um atleta chileno.

Exemplos que a cada ano eclodem frente a olhares que se mantém cerrados. É preciso coragem porque, como Martin Luther King diz, “o que me preocupa não é o grito dos maus, mas o silêncio dos bons”. Até quando ficaremos calados? 
 

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