Pelo mundo

Josias Pereira é repórter do Super FC e escreve sobre futebol internacional, um espaço voltado inclusive às ligas alternativas mundo afora, variadas modalidades esportivas, como basquete, futebol americano, beisebol, dentre outras, além de literatura e turismo esportivo.

Dói pensar que banalizarão a Copa

Publicado em: Seg, 09/10/17 - 03h00

As eliminatórias para a Copa do Mundo estão chegando ao fim. E o nível de equilíbrio apresentado em todos os continentes mostra um crescimento técnico jamais registrado. O futebol evoluiu, até mesmo em certos locais minúsculos, como a Islândia, uma nação com pouco mais de 300 mil habitantes — Belo Horizonte, a título de curiosidade, possui quatro vezes a população do país europeu — e praticamente assegurada em sua primeira Copa do Mundo.

E é por ver esta movimentação em todos os cantos que me ponho inseguro com os rumos do Mundial nos próximos anos. A Fifa, interessada em expandir seu poder de penetração em vários centros, e claro, aumentar seus lucros com a venda dos direitos de imagem do maior evento esportivo da Terra ao lado da Olimpíada, definiu que 48 seleções participarão da competição a partir de 2026. O número atual é de 32 seleções.

A justificativa da entidade, para além das finanças, é a possibilidade de mais países desfrutarem do encantamento de uma Copa. Mas é preciso ter muito cuidado com a qualidade técnica dos Mundiais que nos serão entregues. Com a nova dinâmica, sete países da América do Sul, por exemplo, poderiam disputar a Copa. Sete de dez nações que disputam as Eliminatórias Sul-Americanas. Ou seja, só um milagre — ou muita mediocridade — fará com que uma das grandes potências da Conmebol fique de fora de um Mundial.

Há também o risco das qualificatórias para a Copa, já bem arrastadas em calendários cada vez mais apertados, perderem grande parte de sua importância. E isso é péssimo. Um desserviço ao futebol de qualidade que vem se desenhando nas últimas décadas.

Estar em uma Copa é um privilégio e deve-se premiar os melhores, a verdadeira nata do futebol. Com 48 seleções, o torneio pode caminhar para uma banalização irreversível, por mais que saibamos que no mata-mata deverão persistir as grandes potências do mundo da bola.

Exemplos para justificar este receio não faltam. A última Eurocopa, que passou de 16 seleções para 24, teve jogos sofríveis na primeira fase. Equipes avançando à fase final, como foi o caso da campeã Portugal, com três empates. Sem contar o malabarismo para classificar os três melhores terceiros lugares.

E o que falar da Libertadores, que teve ampliadas suas fases preliminares para permitir a presença de mais equipes e jogos? É bizarro imaginar que o Brasileirão deste ano possa permitir que o nono colocado dispute uma competição do tamanho da Libertadores.

As Eliminatórias atuais reservam alguns casos claros de injustiça, como a dificuldade notória das seleções africanas de garantir uma vaga na Copa, uma vez que atualmente apenas cinco em um universo de 26 avancem. No entanto, inchar o torneio que é sua principal atração não parece uma decisão acertada, acumulando muito mais contras do que prós, não só no que tange ao nível técnico, mas também à farra das sedes, que terão que se desdobrar financeiramente para abrigar 48 times e os custos de uma competição onerosa, haja vista o Brasil, que recebeu 32 seleções em 2014 e paga a conta até hoje.

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