JOSIAS PEREIRA

É preciso erradicar a malandragem do futebol

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 25 de setembro de 2017 | 03:00
 
 

Hoje, neste espaço, faço coro àqueles amantes de futebol que não suportam mais os lamentos de toda segunda-feira. Parece um círculo vicioso. Um mal engendrado no esporte mais praticado do planeta. O brasileiro, antes de se encantar com qualquer outro esporte, tem em sua mente o futebol. E o futebol não se explica, não é nem uma paixão. É o relacionamento mais duradouro e “sem vergonha” que possa existir. O time pode estar naquela pindaíba que nós, os devotos, estaremos lá, torcendo. E mesmo que aquela raiva irrompa, aquele desejo louco de sair rasgando os pôsteres da parede com uma perda de título, eliminação, derrota e até rebaixamento, no jogo seguinte, na relação mais “sem vergonha”, não é que estamos nós lá de novo?

Mas existe algo no futebol que sempre me incomodou: por que consideramos que a malandragem, não aquela do estilo boleirão, de ir para cima na habilidade técnica, mas sim o antijogo, faz parte? É curioso vermos inúmeras campanhas de fair play, o jogo limpo, sendo que os próprios atletas fazem questão de levar vantagem nítida em lances irregulares. Afinal, a culpa é da arbitragem. Se ele não viu, isso não é problema meu. Os atletas passam 90 minutos tentando ludibriar a arbitragem. Talvez foi isso que Jô pensou quando, com a ajudinha de seu braço, mandou a bola para o fundo das redes contra o Vasco.

No desespero, a CBF ameaçou introduzir o árbitro de vídeo. Mas não seria bem mais fácil se o jogador admitisse a infração? Muitas vezes, tenho a certeza absoluta de que, no futebol, vale tudo. Tanto vale que o discurso esvaziado de que o replay vai atrasar o jogo é o principal motivo para que muitos o demonizem. Não existe coerência nas falas. O reclamão de hoje é o beneficiado de amanhã. E quando os erros acontecem a seu favor, o discurso puritano de que todos podem vacilar aparece.

E não é que voltamos na tal da malandragem? Para mim, o futebol é o esporte mais malandro da face da terra. E é por isso que ele resiste bravamente ao uso da tecnologia. Porque todos nós temos a certeza de que muito do antijogo praticado nos gramados mundiais irá acabar. Um gol de mão de Maradona é qualificado como “intervenção divina” e é cantado com orgulho. Mas, para que honestidade, não é mesmo?

Nos mais variados esportes, o uso do replay tornou-se uma constante. E é lamentável que, muitas vezes, todo o planejamento de um time de futebol acabe por uma simulação e até mesmo pela aloprada decisão de um assistente ou um árbitro.

Mas somos nós os responsáveis por escolher se vamos querer tirar a malandragem do futebol ou vamos continuar nos sujeitando ao erro apenas por achar que tudo faz parte. Porque, sinceramente, desde que nos entendemos por gente, possivelmente já passamos mais tempo comentando os erros de um jogo do que os acertos. O problema é que, no planeta bola, todas as decisões são morosas. Então, que aguentemos! Lá vem mais uma segunda, cheia de comentaristas discutindo quem foi mais beneficiado. Como bem disse, essa relação “sem vergonha” que temos com o futebol faz com que nos esqueçamos rápido da fúria de ontem.