Pelo mundo

Josias Pereira é repórter do Super FC e escreve sobre futebol internacional, um espaço voltado inclusive às ligas alternativas mundo afora, variadas modalidades esportivas, como basquete, futebol americano, beisebol, dentre outras, além de literatura e turismo esportivo.

Lucarelli e Buffon: homens que honraram suas palavras

Publicado em: Seg, 21/05/18 - 03h00

As mais belas histórias do último fim de semana esportivo vêm da Itália. A primeira de Parma, onde uma odisseia foi travada até que a redenção fosse completa. Depois de Turim, onde a camisa 1 de Buffon não deveria nunca mais ser utilizada. Comecemos então da queda. Pois os tropeços nos ensinam muito mais do que os acertos. Parecia pouco provável que um dia o Parma, uma das maiores potências nos anos 90 e turbinada com o dinheiro da Parmalat, sofreria uma derrocada tão abrupta a ponto de decretar falência e ser rebaixada à quarta divisão.

O ano sombrio instaurou-se em 2015. O ex-time dos brasileiros Taffarel, Amoroso, Júnior, Alex, Zé Maria e Adriano foi ao fundo do poço. Mais de R$ 670 milhões em dívidas. O futuro do Parma era incerto. A debandada seria certeira. Mas um jogador recusou-se a ser o "último a apagar a luz". “Eu morri junto com o Parma e com o Parma quero renascer", disse Alessandro Lucarelli, zagueiro e capitão, remanescente da equipe que esteve na Série A. 

Ainda existem histórias de lealdade no esporte. Com Lucarelli no barco, o novo Parma, renascido após o caos, remou em mares inóspitos. Veio primeiro a calmaria na Série D. Um acesso sem contratempos. O vento estava a favor. Na C, as ondas não foram amigas. Por vezes, o navio quase naufragou. Foi necessário absorver as fortes marés que projetavam-se no casco. Uma disputa de mata-mata contra outros 26 times, no qual só o campeão subiria à segundona. Lucarelli esteve lá para conduzir a nau e, ao fim, erguer a taça.

E, aos 40 anos, o zagueiro de tanto brio pode provar ao mundo que é um homem de palavra. As águas da Série B eram o último desafio da odisseia. O Parma, na última sexta-feira, na maior de todas as suas batalhas, encarou o Spezia do campeão mundial Gilardino e venceu, fora de casa, por 2 a 0. Três temporadas depois da infame queda, o regresso. Na capitania de Alessandro Lucarelli, eis que o navio Parma aportou novamente no cais da Série A.

Parma de onde saiu Buffon, o outro capitão que merece destaque nesta coluna. Não haverá nenhum outro como ele a envergar com tanta paixão a camisa da Vecchia Signora. Sua importância não se resume apenas a conquistas, essas que tanto lhe foram presentes em sua jornada por Turim. Ele foi um líder, que com tantas histórias de superação e resiliência inspiraram a Juventus a jamais desfalecer.

Recordo-me aqui quando a Juve foi da glória em 2006 à queda por conta de um escândalo de corrupção envolvendo. Um poderoso esquadrão poderia ter ido à deriva, mas vários grandes nomes encararam a Série B, dentre eles Buffon, de peito aberto. O camisa 1, hoje aos 40 anos assim como Lucarelli, foi a classe e a palavra final.

Um profissional de caráter indelével por 656 partidas, 518 gols sofridos e o incrível número de 311 jogos sem sofrer gols em uma jornada de 17 anos e 19 títulos. Os números falam por "Gigi", mas será a memória a responsável por seu legado em Turim perpetuar. E essa história, onde quer que ele vá, estará para sempre atrelada a Juventus. É na imaterialidade que o futebol resiste. Quisera nós, no Brasil, valorizarmos tanto os nossos ídolos quanto os italianos o celebram.

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