JOSIAS PEREIRA

Parece que estamos vendo outro esporte

Nós é quem deveríamos dar aula. Hoje, ao contrário, nós somos os estudantes, muito mau estudantes

Por Da Redação
Publicado em 11 de fevereiro de 2019 | 03:00
 
 

Nesse espaço, já destaquei o prazer que me dá chegar aos domingos e ter o privilégio de acompanhar uma partida do Campeonato Inglês. Respeito os saudosistas do nosso futebol, pois compreendo que a era que desfrutaram nos brindou com craques históricos no país pentacampeão mundial. Mas ter hoje em dia o privilégio de acompanhar times com o ímpeto ofensivo de um Manchester City, por exemplo, é quase que um refrigério em meio ao pobre futebol que temos visto nos gramados brasileiros.

Nós é quem deveríamos dar aula. Hoje, ao contrário, nós somos os estudantes, muito mau estudantes, diga-se de passagem. A conformidade com o placar construído é uma estratégia. Não questiono. Jogar com inteligência também faz parte do futebol. Mas a covardia de vários clubes no Brasil impedem que o espetáculo futebol nos volte a saltar pelos olhos, aquele prazer e imediato encantamento com o talento nato.

Uma grande parcela de culpa nesta mudança de característica do futebol nacional passa pelo comando técnico. Aquela orientação que vem do banco para dar aquela segurada. A metáfora da bola com o boxe é extremamente pertinente. As trocações, ou seja, um jogo aberto e franco entre dois rivais é cada vez menos visto nos gramados.

Eu, sem ser leviano, compreendo que muitos técnicos priorizam o sistema defensivo por compreender a que lugar seus times pertencem. Todavia, também compreendo que o medo de errar tira a vontade de ganhar. A bola pune. Não é o que sempre aprendemos? Em uma escala de comparação é quase impossível manter no mesmo patamar os milhões e a qualidade dos jogadores que Pep Guardiola sempre possuiu ao seu dispor durante toda a carreira. O Oásis para qualquer treinador. Mas a mentalidade vencedora é o trunfo do comandante do Manchester City, reconhecidamente um treinador à frente de seu tempo, assim como Jürgen Klopp, do Manchester City.

"Não há nada mais perigoso do que não arriscar", certa feita disse Guardiola. E ele está certo. O próprio torcedor, mesmo que a derrota bata à porta, reconhece o esforço de um time que se lança ao imponderável. O futebol que temos visto hoje em solo brasileiro anda tão pragmático que até mesmo o "Sobrenatural de Almeida", o insuperável carma do Fluminense de Nelson Rodrigues, perdeu suas funções. A sequência enfadonha da histórias nos é conhecida.

É errado ser exigente? É errado cobrar um futebol bonito? Creio eu que não. Do apoteótico Manchester City implacável sobre o Chelsea a uma rodada de Estadual parece existir um abismo tão grande. Por vezes, até penso que estamos a ver um outro esporte. A disparidade nos faz refletir sobre a responsabilidade que cada agente do futebol brasileiro no atual momento terá nas próximas gerações de torcedores.

Por mais que lamentemos a geração "Playstation" ou "Fifa x PES" que vem se formando a cada ano, não há como criticar um garoto por absorver no futebol internacional ou nos ídolos estrangeiros a admiração imediata. Estão realmente em outro patamar.