Pelo mundo

Josias Pereira é repórter do Super FC e escreve sobre futebol internacional, um espaço voltado inclusive às ligas alternativas mundo afora, variadas modalidades esportivas, como basquete, futebol americano, beisebol, dentre outras, além de literatura e turismo esportivo.

Por que sempre a culpa é do treinador?

Publicado em: Seg, 15/04/19 - 03h00
Wenger defendeu a ampliação do Mundial de Clubes | Foto: Arsenal / divulgação

Comecei a me apaixonar pelo futebol em um período em que grandes treinadores estabeleceram dinastias na Premier League, períodos de permanência que deixavam minha mente maravilhada pela persistência e confiança de diretores. O último desses foi Arsène Wenger, comandante que sempre me fez perambular entre o amor e o ódio, mas que ouso dizer mudou a mentalidade da Premier League e sempre caracterizou-se pelo toque de bola e bom futebol.

Persistir e insistir não são características muito presentes no futebol. Enquanto em outros esportes, o técnico é valorizado, como o vôlei em que vemos a total confiança na condução do grupo, por exemplo, do Sada Cruzeiro em Marcelo Mendez, o futebol ainda carece do senso de coletividade. Ver Wengers e Fergusons destoam da lógica imediatista. É curioso pensarmos que os treinadores são os primeiros na lista de cortes e respondem pela incompetência de executivos.

Se pegarmos as investidas dos clubes na última janela, não existe uma dinâmica estabelecida de trabalho, perfil de atleta e há muito pouco do técnico, que por variadas situações aceita as condições que lhe são dadas.

Não quero ser hipócrita ao ponto de eximir os treinadores de suas responsabilidades. Mas por que sempre são culpados pelo fracasso das equipes? Há necessidade de buscar o bode expiatório. É mais fácil ter alguém para culpar do que se avaliar.

O que presenciamos com o linchamento público de Zé Ricardo no Botafogo é a prova da péssima gestão. Os clubes entregam seus profissionais ao léu e reforçam o discurso de violência que alimenta o radicalismo. São covardes e cúmplices. Do presidente ao “torcedor”, que pensa que valentia e a intimidação trazem mudanças.

E assim segue a dança das cadeiras, com times mal geridos e profissionais sem perspectiva de futuro. Há uma urgência no país pela valorização dos treinadores, vítimas de um futebol que valoriza apenas a vitória. Existe muito achismo, pensamentos rasos sobre o jogo, a técnica e a evolução do jogo. Nesse futebol cada vez mais cíclico, mais disputado, a disparidade aumenta. Enquanto não houver profissionalismo, o futebol brasileiro vai definhar. E os técnicos, nessa relação tumultuada, continuarão reféns. Que eles também se valorizem mais. 

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