Opinião

Quando o futebol fica em segundo plano

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 28 de maio de 2018 | 07:05
 
 

A despolitização dos atletas brasileiros já é algo conhecido. A bolha que envolve a muitos, principalmente no futebol, faz com que a população crie uma completa aversão à realidade paralela que o esporte mais idolatrado do país perambula. No momento mais periclitante do país desde 2013, quando intensas mobilizações eclodiram antes e durante a Copa das Confederações, a CBF bancou a realização de uma rodada do Campeonato Brasileiro sem ter a mínima condição plausível de realização. 

Os aeroportos operam com o nível de combustível na capacidade mínima, pessoas se amontoam nos postos em filas apocalípticas, faltam produtos nos supermercados e sacolões, mas a bola rola como se nada estivesse acontecendo. Uma afronta à situação que envolve a todos e até mesmo aos jogadores, que embarcaram em uma aventura nesse último fim de semana sem nem mesmo saber se existiria condições de voltar para casa. 

Não à toa, uma pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, entre os dias 29 a 30 de janeiro deste ano, mostrou que 41% dos entrevistados disseram não ter interesse por futebol. O índice é dez pontos maior que o da pesquisa realizada há oito anos, a última que abordou o tema. A porcentagem é diretamente sentida nas faixas que possuem o menor poder aquisitivo. Os entrevistados que tinham renda familiar de até dois salários mínimos ou de dois a cinco salários mínimos, apresentaram maior porcentagem de desinteressados (45% e 37%, respectivamente). 

Poucos são os agentes presentes no futebol brasileiro capazes de trazer a realidade desconexa de sua profissão ao povo. Destaco aqui o técnico Eduardo Baptista, do Coritiba, que em uma declaração bastante lúcida resumiu bem o meu sentimento quanto a essa última rodada de Campeonato Brasileiro disputada à revelia.

"Se não tiver jogo, não tem problema. Acho que a gente não pode nem pensar em jogo em uma situação dessas. Uma situação caótica, triste, que tende a piorar. O Campeonato Brasileiro em um momento desses, o futebol, fica em segundo plano", disparou o comandante, acrescendo à sua fala palavras de ordem aos políticos corruptos, chamados por ele de "assassinos" da população. 

Uma mensagem forte e pouco ouvida no futebol. A desconexão chega à seleção brasileira. Uma pena. A ostentação desnecessária, com chegadas e partidas de helicóptero, escolta policial... Não há aqui o questionamento da importância dos mesmos como agentes e representantes do país, mas sim a lamentação pelo momento que o fazem. A superexposição da irrelevância. Aquele timing que tem a CBF como mentora. 

Situações que fazem mais e mais pessoas, como aquelas da pesquisa, se distanciarem do futebol quando sua renda é basicamente para a sobrevivência em um país totalmente arrasado. O futebol não pode se privar disso. O esporte não pode ser uma bolha. Que os responsáveis por conduzir o nosso futebol tenham o mínimo de sensibilidade e respeito, compreendendo que os problemas e as reivindicações afetam a todos, nas mas variadas escalas, inclusive eles mesmos.

FRASES

"Poucos são os agentes presentes no futebol brasileiro capazes de trazer a realidade desconexa de sua profissão ao povo" 

"Situações que fazem mais e mais pessoas se distanciarem do futebol quando sua renda é basicamente para a sobrevivência em um país totalmente arrasado" .