Pelo mundo

Josias Pereira é repórter do Super FC e escreve sobre futebol internacional, um espaço voltado inclusive às ligas alternativas mundo afora, variadas modalidades esportivas, como basquete, futebol americano, beisebol, dentre outras, além de literatura e turismo esportivo.

Rio 2016: por trás do espetáculo, o estrago

Publicado em: Seg, 07/08/17 - 03h00

No último sábado, completou-se um ano da abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, a 31ª edição das Olimpíadas da Era Moderna. À época, recordo-me muito bem que as ruas da Cidade Maravilhosa foram inundadas com placas daquele que seria o slogan do evento: “Um novo mundo”. O discurso programado do Comitê Olímpico Internacional (COI) e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), na teoria, nos encantou. Afinal de contas, mesmo com os pesares de sua maior crise econômica da história, o Brasil fez bonito. Tanto que, até hoje, dia 7 de agosto de 2017, não sabemos ao certo qual foi o preço pago pelo tal “Novo Mundo”. As contas bilionárias das Olimpíadas não foram fechadas, trazendo aquele ar de corrupção e suspeita que já fazem parte deste país diariamente.

De forma imaterial, os Jogos do Rio representaram talvez – e apenas – o despertar de um orgulho perdido. Mas o “Novo Mundo” se foi tão rápido quanto a chama Olímpica retirada da Candelária. No outro dia, o Brasil, chamado a plenos pulmões de o “país do futuro” por vários jornalistas do mundo inteiro, voltou a ser o país do passado.

Uma pena. E neste ponto não vou questionar sequer os valores gastos na festa. No entanto, venho lamentar a ineficiência na gestão do famoso legado olímpico. A promessa era incentivar o esporte em todos os âmbitos, em todos os níveis, em todas as idades. E aí vem a prática. Nada se tem visto. Os próprios donos da festa, os atletas, muitos deles, estão aí, deixados ao léu, lutando por patrocínios e por um sonho cada vez mais oneroso.

E o que falar então da estrutura deixada pelo COI para uma gestão governamental falha e que não tem privilegiado a quem deveria usufruir também do sonho olímpico: o cidadão, o carioca principalmente. Sejamos honestos, é possível que os frutos das Olimpíadas sejam muito mais bem-aproveitados em BH do que na cidade que abrigou o evento.

O tal legado é um mito. E não é porque o Brasil é um país em desenvolvimento. Vários são os relatos de nações de primeiro mundo que têm fechado suas portas para o COI por conta dos gastos exorbitantes. No fim de tudo, o que fica são as memórias, e aqueles momentos únicos de glória esportiva que ninguém vai poder tirar do Brasil. E isso é pouco. Muito pouco.

Há um ano, orgulho-me de ter estado lá, de ter reportado e vivenciado cenas de um sonho que conservava ainda pequeno, quando fazia recortes de revistas sobre os Jogos de Sydney, Atenas e até mesmo de Pequim, sem nunca imaginar que um dia guardaria as minhas próprias matérias sobre o maior evento da terra.

Só que, ao mesmo tempo que o orgulho profissional fala alto, a tristeza como cidadão e, acima de tudo, fã do esporte, grita. Lembro-me de ter ido ao Parque Olímpico no último dia de competições e quando olhei para trás, vendo toda a estrutura deixada, a incômoda pergunta veio à tona: o que será disso tudo agora?

Poderíamos ter criado uma geração de atletas, capazes de mudar este país por meio da prática esportiva. Mas preferimos esbanjar o material – que não temos – a investir nas pessoas.
O “Novo Mundo” não passou de um sonho. Do que adianta ter e não ser? 

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