JOSIAS PEREIRA

Vexame que o futebol mineiro vai carregar

Existem situações que estão muito acima da prática esportiva

Por Da Redação
Publicado em 28 de janeiro de 2019 | 03:00
 
 

Certa feita, neste mesmo espaço, destaquei que o esporte não pode ausentar-se da realidade que o cerca. Existem situações que estão muito acima da prática esportiva. Fechar os olhos para o que acontece longe da redoma dos gramados é de uma falta de sensibilidade que dilacera. Aconteceu no último fim de semana em Minas Gerais um dos capítulos mais vexatórios dessa relação entre esporte e sociedade. Toda uma rodada do Campeonato Mineiro foi disputada enquanto o Estado e também o país acompanhava com apreensão e tristeza o relato do crime praticado em Brumadinho, uma cidade a 60 km de distância de Belo Horizonte.

Um descabimento completo a bola rolar se pensarmos que, a poucos quilômetros do Mineirão, bombeiros e voluntários, em um esforço hercúleo, desdobravam-se nas buscas pelas centenas de desaparecidos daquela que é uma das maiores tragédias do país. E aqui não serei demagogo ao analisar as nuances que cercaram o clássico entre Cruzeiro e Atlético, onde mais uma vez a briga nos bastidores preencheu os noticiários.

Como organizadora da competição, esperava-se uma postura da Federação Mineira de Futebol, divulgando ainda na sexta, suspender toda uma rodada do Estadual que, mediante ao luto de famílias que hoje ainda choram por seus mortos, jamais deveria ser realizada. Em janeiro de 2013, quando do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, que tirou a vida de mais de 200 pessoas, a Federação Gaúcha suspendeu toda a terceira rodada do Estadual. Gesto de pura lucidez.

No dia 11 de setembro de 2001, quando do atentado terrorista nas torres do World Trade Center, em Nova York, a MLB, a liga profissional de beisebol dos Estados Unidos e Canadá, cancelou na terça, dia da tragédia, todos os jogos, sem preocupar-se com a TV, com o calendário ou com os jogos decisivos que poderiam definir os classificados à fase mata-mata da competição.

Uma instituição que se diz séria e busca prezar por um dos maiores meios de entretenimento do Estado, que é o futebol, jamais poderia deixar de faltar com a força motriz de seu trabalho, o povo.

Os jogadores e torcedores não podem ser responsabilizados pelo que aconteceu nesse fim de semana. Eles fizeram sua parte, com arrecadações, dentre elas dos próprios clubes, e os votos de “Força Brumadinho”. A bola fora está nas mãos de quem comanda. O esporte é o local onde se deve dar exemplo. E é incrível que nas redes sociais acompanhemos o espetáculo de declarações horripilantes ao tocar no tema, como “os jogadores vão parar de jogar para ajudar na busca dos corpos?”. A falta de sensibilidade que alimenta a cegueira de uma sociedade. O futebol, muitas vezes, é o reflexo disso.