Raimundo Couto

Jornalista especializado no setor automotivo, escreve às quartas-feiras no caderno Veículos

Fazendo história

Publicado em: Qua, 30/07/14 - 03h00
Já disse o poeta que “Minas são muitas”, e por certo cada uma com suas muitas histórias, que tornam este Estado tão querido e peculiar. Uma missiva nos chegou, assinada pelo leitor Hélio Marcassa, consultando sobre um assunto de que poucos conterrâneos, apenas alguns veteranos, devem ter tomado conhecimento. Hélio se define como um historiador, que pesquisa nossas raízes e se interessa por assuntos que envolvem os famosos “causos”. E é a propósito de um bate-papo informal que surgiu a ideia para a elaboração do e-mail por ele nos enviado. 

“Ainda outro dia, em uma roda de conversa, surgiu um assunto que me intrigou, e gostaria de saber se é fato, de verdade, que Belo Horizonte já sediou, em um passado muito distante, uma fábrica de pneus. Como nunca ouvi falar disso, fiquei curioso para conhecer essa história”, nos inquire Marcassa. É verdade, Hélio. Se hoje somos um importante polo industrial automotivo, que abriga a montadora líder de mercado, essa caminhada se iniciou há muitos anos. 

Um fato histórico marcou esse pioneirismo, e vale a pena recordá-lo. Nosso Estado sempre esteve um passo a frente na história do automóvel no Brasil. Sobretudo, e principalmente, ao constatarmos que fomos nós os primeiros a instalar uma indústria do setor, começando por onde tudo deve ter início para se solidificar: pelos pés, no caso, os pneus. Graças a uma fábrica instalada em Marzagânia, nos arredores de Belo Horizonte, precisamente no bairro hoje (e já naquela época) conhecido General Carneiro. Ali, o homem de negócios Carvalho de Brito, que na ocasião era um dos mais destacados do setor, fez erguer a primeira fábrica de pneumáticos (como se chamavam à época) do país. Patrioticamente batizada de Pneus Brasil, a indústria marcou sua época e registrou o arrojo do empresariado das Minas Gerais. 

Carvalho de Brito era mesmo um homem e um empresário para lá de visionário. Sob sua batuta funcionava, e muito bem, a concessionária dos serviços elétricos da cidade, que incluía o único meio de transporte coletivo de então, os hoje quase esquecidos, mas eficientes, bondes, que se tornaram apenas uma lembrança da velha geração. Os famosos pneus Brasil calçavam os veículos que rodavam por uma nação ainda desconhecida. Com eles, foi possível trilhar caminhos, abrir estradas e rasgar o Brasil de norte a sul. Portanto, foi a partir de Minas Gerais que se teve início uma importante parte de nossa história motorizada, tão recente (diante da de outros países), que conta pouco mais de meio século de vida. 

Os negócios do empresário no ramo de pneus não tiveram vida longa, e o motivo tem fácil explicação. Durou apenas enquanto a força industrial dos paulistas não despontou na economia do Brasil. Quando isso aconteceu e as montadoras optaram por fabricar ou montar os automóveis em São Paulo, trouxeram a reboque as até hoje gigantes do setor (Pirelli, Goodyear e Michelin, entre outras), que dominaram o cenário. Da indústria de Carvalho Brito restou apenas lembrança, por seu pioneirismo, banida que fora por suas gigantescas e poderosas concorrentes. Por muitos anos, o privilégio de ser a número 1 do país no setor – em vendas de veículos – permaneceu nas mãos dos paulistas, mas de alguns anos pra cá, pelas mãos da ítalo-mineira Fiat, Minas segura o bastão da liderança.

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