RAIMUNDO COUTO

Ídolo das multidões

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 20 de junho de 2018 | 03:00
 
 
DANIEL IGLESIAS - 19.12.2012

“Nada mais se parece com um automóvel do que o Fusca”, dizia meu saudoso avô, que podia afirmar isso com a propriedade sobre dos que nasceram no fim do século XIX e viram de camarote a evolução da indústria automobilística mundial. Seu primeiro automóvel, como ele se referia aos carros, foi um Ford T, que chegou a Bambuí – cidade onde ele nasceu e para lá voltou para começar sua vida profissional depois de concluir os estudos na Faculdade de Medicina no Rio de Janeiro – estreando as estatísticas daqueles tempos como o primeiro veículo do município.

Certamente meu avô já teve um Fusca em sua garagem. Meu pai também, meus tios e tantos outros conhecidos que seria impossível citar todos neste espaço. Criado por Ferdinand Porsche, o modelo surgiu na Alemanha em 1945 para se tornar o “carro do povo”, como já estava previsto na escolha de seu nome. No Brasil, chegou, importado, em 1950. Nove anos depois, com a instalação da fábrica de Anchieta da Volkswagen, o Fusca ganhou uma linha de montagem nacional. Hoje, 68 anos após o primeiro Fusca chegar ao Brasil, um exemplar do modelo bem conservado, daqueles “brilhando e todo original”, ainda atrai olhares nas ruas do país.

Nesta semana, dia 22 de junho, se comemora o Dia Mundial do Fusca, e nada mais justo que fazer essa homenagem ao pioneiro de toda uma geração. Um tributo a um guerreiro que tem muitas histórias para contar. O primeiro carro de milhões de brasileiros merece ser reverenciado por tudo que ele representou em nossas vidas. No Brasil, foram produzidas cerca de 3 milhões de unidades e muitas delas ainda rodam inteiras e valentes pelos mais distantes pontos do país. Além de fazer parte da história de nossa economia, que tem na indústria automobilística um importante gerador de receita e renda, o Fusca eternizou momentos inesquecíveis em nossas vidas. Centenas de milhares de pessoas aprenderam a dirigir ao volante de um Fusca (inclusive eu), tantas outras deram seu primeiro beijo dentro do carro, que, por certo, de tão próximo, parecia um membro da família.

O filme “Velozes e Furiosos” que deu origem à febre dos carros envenenados ou tunados e foi visto por milhões de espectadores nem de longe fez o sucesso da película “Se Meu Fusca Falasse”, em que o carro foi humanizado na figura de Herbie, o Fusquinha protagonista da trama e que se tornou um herói. Perseguiu e prendeu os fora da lei, promoveu encontros românticos e, claro, no final sempre feliz de Hollywood, separou os bandidos dos mocinhos e seguiu seu caminho de super-herói.

São tantas as histórias que o Fusca, no Brasil, teve até envolvimento com a política, quando, a pedido pessoal do então presidente Itamar Franco foi reativada, em 1994, sua linha de produção, interrompida em 1986. Por mais dois anos ele voltou a sair zero quilômetro, e a safra deste período é hoje motivo de cobiça para os colecionadores. O México foi o último país do mundo a encerrar a produção do modelo, no ano passado, e, então, o Fusca “sai da vida para entrar na história” definitivamente. Nem poderia ser de outra forma.