RAIMUNDO COUTO

Ídolo de gerações

Incontáveis são os que aprenderam a dirigir ao volante de um Fusca, e tantas outras pessoas tiveram o carrinho como o primeiro de muitos outros em suas vidas

Por Da Redação
Publicado em 23 de janeiro de 2019 | 03:00
 
 
Raimundo Couto

Ele é tão querido e importante que, diferentemente do convencional, quando o comum é escolher um dia do ano para celebrar alguma data, nosso personagem da semana conta com duas. Falamos do simpático Fusca, que reserva para comemorar a sua existência um dia no mês de junho e outro em janeiro. No primeiro, é comemorado o Dia Mundial, e, no segundo, que aconteceu no último domingo, dia 20, os discípulos do “besouro” levantam um brinde para marcar seu Dia Nacional.

Como o nosso Fusquinha – apenas no Brasil o VW Sedan recebeu alcunha própria – não se faz de rogado, seus súditos levantam brindes para reverenciá-lo em seu dia. A coluna desta semana rende justa homenagem para o pioneiro de toda uma geração. Tributo a um guerreiro que tem muitas histórias para contar. O primeiro carro de milhões de brasileiros merece ser reverenciado por tudo o que ele representou na vida de tantos que o conheceram mais intimamente.

Foram produzidos no Brasil 3,1 milhões de unidades, e muitas delas ainda rodam inteiras e valentes pelos mais distantes pontos do país. O Fusca também contribuiu para a economia do Brasil, afinal temos na indústria automobilística um importante pilar de geração de renda.

Incontáveis são os que aprenderam a dirigir ao volante de um Fusca, e tantas outras pessoas tiveram o carrinho como o primeiro de muitos outros em suas vidas. Já dizia meu avô que “nada mais se parece com um automóvel do que um Volkswagen”. E ele podia afirmar isso com a propriedade dos que nasceram no fim do século XIX e que tiveram a oportunidade de assistir, de camarote, à evolução da indústria automobilística mundial. Seu primeiro automóvel, como ele se referia aos carros, foi um Ford T, mas, certamente, teve um Fusquinha em sua garagem. Meu pai também, e tios e tantos outros conhecidos que seria impossível citar todos.

Criado por Ferdinand Porsche, o Fusca surgiu na Alemanha, em 1938, para se tornar o “carro do povo”, como já estava previsto na escolha de seu nome. No Brasil, chegou importado, em 1950, e, nove anos depois, com a instalação da fábrica de Anchieta, em São Paulo, ganhou linha de montagem própria. Até hoje, depois de 60 anos da primeira unidade inteiramente nacional – o que ocorreu em 3 de janeiro de 1959 – um modelo bem-conservado, brilhando e todo original é motivo para um desviar de atenção.

O filme “Velozes e Furiosos”, que deu origem à febre dos carros envenenados ou tunados e foi visto por milhões de espectadores, nem de longe fez o sucesso da película “Se Meu Fusca Falasse”, em que o carro foi humanizado na figura de Herbie, o Fusquinha protagonista da trama e que se tornou um herói. Perseguiu e prendeu os fora da lei, promoveu encontros românticos e, claro, no final sempre feliz de Hollywood, separou os bandidos dos mocinhos e seguiu seu caminho de super-herói. São tantas as histórias sobre o Fusca que, por aqui, ele comoveu até políticos, quando, a pedido pessoal do então presidente Itamar Franco, teve, em 1994, sua linha de produção reativada. Por mais dois anos, ele voltou a sair zero-quilômetro da fábrica, e essa safra é hoje motivo de cobiça para os colecionadores.

O México foi o último país do mundo a encerrar a produção do modelo. Aí o Fusca saiu de linha passando a fazer parte da história.