RAIMUNDO COUTO

Sem trocar as marchas

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 26 de julho de 2017 | 03:00
 
 

Um exemplo do amadurecimento do mercado automotivo está em seu crescimento sustentado. Infelizmente, o tempo de “vacas gordas” no Brasil ficou em um passado recente.

De três anos para cá, nossa economia entrou em forte recessão, o que fez com que as vendas se retraíssem, os negócios se inibissem e o exponencial aumento na venda de veículos zero-quilômetro se estancasse.

Contudo, um avanço pode ser comprovado na democratização de oferta de câmbios automático e automatizado para automóveis compactos, tanto os de entrada na gama de produtos das montadoras quanto as versões com acabamento diferenciado e preço final mais alto. Esse novo panorama mostra a quantas anda o Brasil em relação a outros países muito mais evoluídos economicamente. Quem tem ligação com o tema sabe que, nos Estados Unidos, o câmbio automático predomina desde sua introdução nos anos de 1950.

Aqui vale uma observação. Nossa herança automobilística é europeia, e não americana. Ou seja, quando começamos nossa caminhada produzindo nossos próprios veículos, veio da Europa o “manual de instruções” para ser seguido. E como naqueles tempos era a esportividade que ditava as regras por lá, a adoção do câmbio manual era o mais adequado.

Enquanto em Alemanha, França, Espanha, Inglaterra e Itália (para ficar nos países de maior volume) circulavam carros mais compactos de pegada esportiva e câmbio manual, nos EUA imperavam as beberronas “banheiras” com transmissão automática. Mas essa realidade está mudando. Não custa refrescar a memória do (a) amigo (a) leitor (a) e lembrar que, no Brasil, essa história recente começou com os carros com câmbio Dualogic (da Fiat), I-Motion (da VW) e do Easytronic (da GM), esse último já fora do mercado.

Todas as três tecnologias ficaram com a pecha de serem soluções paliativas, como uma opção alternativa ao câmbio manual. Isso porque o funcionamento sem o terceiro pedal se dá por meio de sistemas robotizados, que efetuam o trabalho de acionar a embreagem e decidem sobre a marcha ideal.

Na prática, é necessário observar quando o sistema está executando um processo de troca de marchas. Nesse instante, deve-se saber dosar a aceleração do veículo para evitar trancos. Nesse momento, acontecem os “soluços”, que, se não condenaram a tecnologia, fazem com que paire no ar uma desconfiança sobre o sistema.

Uma alternativa são os câmbios automatizados de dupla embreagem, que podem ser sofisticados como os que equipam modelos esportivos da Audi por exemplo, e que recebem o nome de DSG. Ou modelos mais “populares”, como o PowerShift, da Ford, presente no compacto New Fiesta e na geração agora anterior do EcoSport, que andou esquentando a cabeça de muitos consumidores com problemas de desgastes reconhecidos pela montadora inclusive.

Voltando aos compactos com câmbio automático convencional, que utiliza conversor de torque e também experimenta constante evolução, em tempos primordiais, esse tipo de transmissão tinha apenas três marchas à frente e uma à ré. Hoje, em modelos da Chevrolet, por exemplo (Onix, Prisma, Cruze e Cobalt), os automáticos são de seis velocidades. Além da GM, os japoneses da Toyota e da Nissan não ficaram para trás e equiparam os compactos Etios (hatch) e Versa (sedã) com um câmbio de comando variável de transmissão, conhecido como CVT. E, assim, as marcas seguem contribuindo para “popularizar” o conforto fazendo descansar, todo o tempo, o pé esquerdo do motorista.

Mesmo com o mercado desaquecido, não deixa de ser alentador vivenciar uma mudança tão importante de preferência do brasileiro, que valoriza cada vez mais a comodidade, optando por ter em sua garagem um carro com câmbio automático ou automatizado que seja.

Coluna originalmente publicada em 29 de março de 2017