Raimundo Couto

Jornalista especializado no setor automotivo, escreve às quartas-feiras no caderno Veículos

Tempos modernos

Publicado em: Qua, 06/12/17 - 02h00

Em um mundo em que as linhas de montagem estão robotizadas, e a impressão em 3D salta das telas dos filmes futuristas e mostra-se cada vez mais real, a história se distancia de gerações recentes, e, para quem não conhece como tudo começou em no mundo das quatro rodas, vamos hoje rememorar.

Foi em 7 de outubro de 1913 que Henry Ford introduziu a primeira linha de montagem móvel do mundo. Um processo que revolucionaria a indústria. Antes eram necessárias 12 horas para a montagem de um Ford T, com seus mais de 3.000 componentes. Com o novo modelo de manufatura, o tempo caiu para 90 minutos, derrubando também o preço do carro: de US$ 850 para menos de US$ 300. Pela simplicidade e preço, o modelo se destoava do que então era produzido pela incipiente indústria automotiva no mundo, se é que podemos chamar de fábrica o que era feito de forma quase artesanal. Àquela altura o automóvel era artigo raro, de luxo, e poucos eram os abonados que tinham o privilégio de possuir um exemplar.

Mas Henry Ford, o criador do modelo T, queria mais. Inspirado nos processos produtivos dos revólveres Colt e das máquinas de costura Singer, o industrial Ford criou a linha de montagem em série. A introdução dessa nova forma de fabricação possibilitou a imediata redução no tempo de produção de cada unidade. O custo final do produto foi diminuindo. O Ford T caiu dos US$ 850 iniciais para US$ 575, o que aumentou sobremaneira o acesso ao veículo. Este valor foi ainda mais reduzido quando o fabricante percebeu que ganharia mais tempo se apenas a cor preta fosse utilizada.

Ao contrário das coloridas, a tinta preta demorava menos tempo para secar e, como consequência, o carro seguia mais rapidamente na linha de montagem. Este fato ensejou a célebre frase atribuída a Henry Ford: o carro está disponível em qualquer cor, contanto que seja preto”. Em pouco tempo, o modelo passou a custar US$ 260, valor mantido até quando sua produção foi encerrada. No ano de 1914 foi iniciada a fabricação na Argentina, e, em 1917, um veículo de carga, dotado de caçamba, derivado do modelo, ganhou o nome de TT. No Brasil, ele estreou em 1919. O apelido de “bigode” surgiu por causa do acelerador, que não era no pedal, mas em uma alavanca no volante, que formava par com outra, para ajustar o avanço de ignição. As duas alavancas, opostas, formavam a figura de um bigode.

Quando o nome pegou, os modelos fabricados no Brasil passaram a mostrar, como um “enfeite” no capô, a figura de um bigode, abaixo do logotipo da Ford.

Uma última curiosidade. Por algum tempo e em alguns modelos, faróis e buzinas eram oferecidos como itens opcionais. O farol auxiliar do motorista, elétrico, com controle interno, sempre foi oferecido como acessório. A produção do modelo T foi mantida até 1927. Alguns meses depois de realizar uma cerimônia comemorando a marca de número 15 milhões de carros produzidos, Henry Ford entendeu que aquele era o momento de seu modelo T abrir lugar a uma nova geração de automóveis. 

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