As informações apuradas até ontem indicam que a denúncia contra Temer a ser apresentada pela PGR nas próximas horas irá acusar o presidente apenas pelo crime de corrupção passiva, como destinatário do dinheiro da JBS flagrado com Rocha Loures. Outras acusações relacionadas ao caso, como lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, serão deixadas para novas denúncias dias ou semanas depois. Devem ser oferecidas pelo menos três denúncias: uma para cada crime ou acusação. Para piorar a situação de Temer, o procurador geral pretende denunciá-lo em fatias. Em vez de um golpe, pauladas repetidas. E o governo que se vire para mobilizar sua base aliada para defender o presidente não uma e sim várias vezes.

Desgaste triplo

Até onde se sabe no momento, a estratégia da PGR pressupõe tramitação e votação distintas para cada denúncia. Ou seja, a Câmara Federal não poderia aglutinar as denúncias para barrá-las de uma vez só; os deputados aliados teriam que passar pelo desgaste de barrar o processo contra Temer ao menos três vezes. A salvação do presidente implicaria em repetidos golpes na imagem parlamentar. Queimação ao triplo: esse é o plano.

Quando agosto vier

A coluna também apurou que, antes de chegar à Câmara, a denúncia deverá cumprir um rito burocrático de cerca de 20 dias no STF, depois de recebida pelo ministro- relator da Lava Jato, Edson Fachin, a quem cabe arquivar ou dar sequência à peça. Isso significa que a 1ª denúncia deve ocorrer em meados de julho, às portas do recesso legislativo (18/7). E a decisão dos deputados sobre autorizar ou não o processo contra Temer pode ficar para o mês de agosto em diante.

Voto certo

Não há nenhuma dúvida de que os deputados serão obrigados a tomar posição sobre Temer. Em Brasília, é dado de barato que Fachin vai aceitar a 1ª denúncia da PGR contra o presidente – e todas as que vierem depois.

Olhos do mundo

A declaração de apoio do governo da Noruega à Lava J<CW-17>ato, durante a visita de Temer ao país semana passada, foi um aviso de que o mundo está atento ao que se passa no Brasil. E, ao menos na parte rica do planeta, que dita a opinião global, há um extraordinário consenso a favor da Lava Jato, que já ultrapassou há tempos os imites do Brasil, amparando-se em vários acordos internacionais, repercutindo na mídia de todos os continentes e gerando impactos diretos, na forma de ações e investigações, em vários países. A essa altura, não há como riscar a Lava Jato do mapa para salvar Temer e outros políticos por ela comprometidos. Definitivamente, e felizmente, isso não é mais uma opção para o Brasil.