Raquel Faria

Crise anunciada
Publicado em: Tue Aug 14 03:00:35 GMT-03:00 2018

Crise anunciada

Mais de uma vez, a última no final da Copa, a coluna comentou que a lira turca seria a segunda peça a cair no dominó da crise das moedas de países emergentes. É o que acontece desde a última sexta-feira, quando a lira desabou 17% em horas. Em abril, a crise cambial já havia afundado o peso argentino e levado o país vizinho ao FMI. Agora, a turbulência se anuncia mais intensa. O governo da Turquia ameaça peitar o mercado financeiro, resistindo a tomar medidas para segurar capitais. E bancos europeus têm muito dinheiro ali. A crise turca pode elevar o estresse global ao maior nível no ano, com impacto negativo para todas as moedas emergentes, incluindo o real.

Real na berlinda

Os primeiros impactos da crise turca já levaram o real para R$ 3,89, valor de fechamento ontem, apenas 11 centavos abaixo da proporção de R$ 4 por dólar. A força da nova onda de instabilidade cambial no mundo pode levar a moeda brasileira a romper os R$ 4. Na história do real, o maior valor até hoje foi de R$ 4,24, em 23 de setembro de 2015. Esse recorde tende a ser quebrado agora.

Cabo de guerra

O nosso Bando Central voltou ontem a atuar no mercado cambial para amenizar a escalada do dólar. Mas, vai ser difícil segurar o nervosismo no mercado; o risco externo é agravado no Brasil pelo cenário interno conturbado por eleições próximas. Hoje, tudo favorece turbulências no mercado brasileiro. Nesse contexto, o BC será pressionado a subir a Selic. Como na Turquia e na Argentina, os capitais estrangeiros vão exigir mais para deixar seu dinheiro aqui. É um cabo de guerra pesado. O banco central argentino já capitulou, elevando ontem os seus juros de 40% para 45%.

Setembro negro

Por trás da crise das moedas emergentes está a valorização do dólar pela alta dos juros nos EUA, dentro da política “normalização” monetária do Fed americano, após as medidas excepcionais para combater os efeitos do crash de 2008. Pois, o Fed está para elevar de nova a sua taxa, pressionando as moedas emergentes mais para baixo, agora, em setembro próximo. O auge da campanha eleitoral no Brasil, algo por si só gerador de tensões, ainda pode coincidir com um pico da crise cambial e da aversão ao risco no exterior. Haja nervos para aguentar o tumulto financeiro que se avizinha.

A fila é grande

A crise das moedas emergentes não vai parar na lira turca, como não parou no peso argentino. Em maior ou menor grau, todos os emergentes estão sendo afetados. O Brasil já viu o real perder 25% do seu valor desde 2017, mas tem volume alto de reservas e por isso não é considerado um dos mais vulneráveis. Há três países com mais riscos de derretimento de moedas: México, África do Sul e Rússia, não necessariamente nesta ordem.

Sustentação

O advogado mineiro Décio Freire (foto: último à direita) é quem sustentará no pleno do STF nesta semana o recurso contra a proibição da terceirização. É um dos casos mais importantes para as empresas do país. Admitido por repercussão geral, afetará todos os demais processos que tratam do tema. Na imagem, o advogado aparece ao lado do presidente e do vice-presidente do TRE/MG, desembargadores Pedro Bernardes (primeiro à esquerda) e Rogério Medeiros, e da desembargadora Teresa Cunha Peixoto, após almoço em homenagem à nova direção no tribunal eleitoral.

O inferno é aqui

Michel Temer come o pão que o diabo amassou nessas eleições. O seu nome está sendo evitado por candidatos dos partidos aliados, por ex-ministros do governo e até pelo próprio postulante do MDB ao Planalto, Henrique Meirelles. Já na oposição ninguém o esquece: ele é a principal arma contra candidaturas de associados ao governo federal. Assim será a campanha para Temer até o fim: muitos o atacam, e ninguém o defende.

Vexame

Há tempo não se houve falar em atuação mais efetiva do MPMG em defesa do consumidor. Deve ser por isso que os abusos prosperam em BH. Um exemplo ocorreu no último sábado: a boate Market Night vendeu mais convites do que o espaço comporta. O resultado foram centenas de jovens que pagaram e não conseguiram entrar.