Raquel Faria

Pane no motor
Publicado em: Tue Dec 26 02:00:00 GMT-03:00 2017

Pane no motor

O setor que salvou o PIB até aqui caminha para a queda em 2018. Após um crescimento de dois dígitos este ano (12%), a agropecuária deve sofrer uma retração de 2,5% segundo o Ipea. A projeção se baseia em dados do IBGE que projetam safra menor de grãos e em estudos da pasta da Agricultura que apontam redução de 7% no Valor Bruto de Produto, a medida da renda rural. Os próprios órgãos do governo estão dizendo que o grande motor da economia perde força. O que recomenda cautela em relação à recuperação do país: o Brasil vai crescer como?

Coisas do mercado

O setor agropecuário desacelerou no fim do ano. Deve crescer apenas 0,4% neste quarto trimestre, contra 18,5% no primeiro. Está em movimento de baixa. O que ocorreu? Clima, flutuações no mercado internacional, coisas de commodities. O setor oscila muito. Por isso é tão perigoso para qualquer país depender de bens primários. E agora, Brasil?

Fé no manual

Apesar da pane no motor principal, governo e sistema financeiro mantêm o otimismo. O Ipea projeta evolução média de 3% do PIB, puxado por outros dois motores, indústria e serviços, que seriam movidos por “gastos privados de consumo e investimento”. E de onde viria a renda para mais gastos das famílias e empresas? Da “reversão do desemprego”, diz o Ipea, sem contudo apontar a fonte da demanda por contratações em massa. No fundo, os economistas estão apostando no crescimento do Brasil porque o país já afundou demais, e no capitalismo as recessões são seguidas de expansões. É a teoria dos ciclos econômicos. Está nos manuais. E todos creem neles.

Teoria defasada

A propósito, o BC poderia recorrer aos manuais em sua justificativa oficial (e obrigatória) para o furo na meta de inflação, que fechará o ano abaixo do piso (3%) da meta (4,5%). Realmente, o BC fez tudo como reza o manual. Mas, o país surpreendeu, não reagiu como previsto. Fazer o que? Não é só no Brasil que as teorias clássicas, da era industrial, estão sendo desafiadas na prática da economia moderna e pós-industrial. As transformações no mundo vão deixando manuais defasados. Mas eles continuam os mesmos.

Passaporte eleitoral

A vice de Lula deve ser uma das vagas mais cobiçadas em 2018, pois pode significar um passaporte para o 2º turno presidencial. Muitos no entorno do ex-presidente entendem que o seu companheiro de chapa seria o sucessor natural na campanha, caso ele tenha a candidatura barrada pela Justiça. E as pesquisas atribuem a Lula um alto poder de transferência de votos.

Primeiro na fila

As especulações sobre o vice de Lula foram deflagradas este mês após a marcação do julgamento do ex-presidente no TRF4 para 24 de janeiro. O primeiro nome cogitado é o do senador Roberto Requião, um dissidente do MDB (PMDB) que mudaria de partido para se viabilizar na chapa. Requião tem muitos apoios no PT, mas outros nomes ainda surgirão para a vaga.

César Romero, Vânia de Landa, Marta Reis e Jovino Campos.

Impávidos

Em 2017, os Tribunais de Justiça gastaram R$ 890 milhões com ‘auxílios’ (moradia, alimentação, saúde etc) que fizeram o ganho dos magistrados extrapolar mais uma vez o teto legal do setor público. Em 2018, os gastos corrigidos devem roçar R$ 1 bilhão. Os supersalários desgastam a imagem do Judiciário mas não parecem constranger seus membros, que continuam impávidos a desfrutar deles ano após ano.

Não abre mão

A filiação de Bolsonaro ao Patriotas (PEN) foi condicionada ao controle do diretório do partido em Minas para o deputado Marcelo Álvaro Antônio, que atuaria como coordenador da campanha bolsonarista no Estado.