Raquel Faria

Peão X doutor
Publicado em: Fri Nov 24 02:00:00 GMT-03:00 2017

Peão X doutor

A mais nova pesquisa que chegou à coluna, recém-finalizada pelo mineiro Doxa, com 2.500 eleitores no Estado, bate no geral com o último Ibope nacional sobre a corrida presidencial: Lula com 36%, Bolsonaro 16% e os demais tão baixos que nem vale a pena citar. Mas, aprofundando a análise dos dados, o levantamento traz à luz um fenômeno que, se não é novo, está ganhando proporções impressionantes: ele mostra nitidamente um fosso político se abrindo na pirâmide social brasileira, entre o voto das elites no topo e das camadas populares na base. Os mineiros revelam em suas preferências um país dividido: o peão e doutor estão em oposição.

Vai de primeira

A adesão a Lula nas camadas populares pode ser medida por dois números. Ele chega a 50% entre eleitores com ensino fundamental (contra 7% de Bolsonaro, o principal rival; os demais nem pontuam no segmento). Nas cidades de Jequitinhonha e Mucuri, as regiões mais pobres, o ex-presidente já passa de 70%. Se dependesse só dos peões, não haveria segundo turno.

De jeito nenhum

No eleitorado com ensino superior, Lula despenca para 17% e perde para Bolsonaro, que já tem 20% entre os mineiros mais escolarizados. Mais que preferências, o levantamento Doxa aponta a recusa forte e persistente nas elites ao petista, que não consegue penetrar nesse meio. Se dependesse dos doutores, Lula talvez fosse derrotado logo no primeiro turno.

Efeito aspirador

As novas pesquisas também mostram que a candidatura Lula está surtindo um efeito de aspirador na centro-esquerda (CE), sugando os votos de outros nomes no campo. No Doxa, Marina segue desidratando: agora tem apenas 6%. E Ciro Gomes empacou em 4%. Lula já dominou o CE. Enquanto for candidato, nos índices atuais, sobra pouco espaço para outros na área.

Nome aberto

O ‘aspirador’ pode estar ligado também no outro lado, com Bolsonaro atraindo para si votos que antes eram de tucanos e outros nomes de centro-direita (CD). Na pesquisa mineira, Bolsonaro se isola no 2º lugar, abrindo distância sobre Marina em 3º. Mas sua posição é frágil: ele não empolgou a elite, da qual só tem 1/5 dos votos. Os candidatos que vêm abaixo ainda não entraram em campanha. E pelo menos um deles, Luciano Huck, vem aí com mais estrutura, grana e apoio para aglutinar o campo CD, hoje muito mais disperso que o rival. Esse campo ainda não definiu o seu anti-Lula.

Manoel Mário de Souza Barros, Mariana Bahia e José Aparecido Ribeiro.

Contraponto

Depois do “evento da arrancada” realizado nesta semana pela chapa oficial que concorre às eleições da Fiemg, a oposição está mobilizando os seus apoiadores na capital e no interior para um grande encontro no dia 30, possivelmente na Pampulha. O grupo da situação reuniu 90 pessoas. O lado contrário pretende superar a marca.

Agenda lotada

As agendas dos secretários municipais agora estão lotadas, especialmente para os vereadores que não apoiaram o governo na apreciação do projeto sobre direitos de servidores. A orientação está posta na PBH: quem votou contra não será bem recebido. Diversos compromissos dos “perseguidos” já teriam sido desmarcados.

Final da fila

A lista dos vereadores que estariam na mira do Executivo é encabeçada por Hélio da Farmácia, líder do próprio partido do prefeito, PHS. Os demais são: Professor Wendel, Juninho Los Hermanos, Fernando Borja, Doorgal Andrada e Juliano Lopes.

Hors concours

Toda regra tem exceção. Nesse caso, a exceção seria o PT. Apesar de votar contra, segundo comentário ouvido na CMBH, o partido do governador Pimentel estaria mantendo na PBH “indicação no primeiro escalão e as portas abertas em todas as secretarias”.