Renata Nunes

RENATA NUNES escreve às sextas-feiras. renatanunes@otempo.com.br

Apenas para dizer oi

Publicado em: Sex, 05/08/16 - 03h00

Olá. Há quanto tempo a gente não se fala... Se quer saber precisamente, passaram-se um ano e 12 dias. Às vezes, tenho a impressão de que foi ontem. Só às vezes, porque, na maior parte do tempo, sinto uma distância enorme da data em que você partiu. Os dias por aqui correm rapidamente e são intensos. A vida continua, cheia de nuances. A verdade é que senti saudade, e foi ela que me motivou a escrever. “A carta” não tem endereço nem e-mail certos, é claro. Afinal, nem poderia. Para muitos, pode parecer morbidez ou insanidade. Mas, para mim, são apenas palavras, destinadas com amor. Logo, melhor não duvidar do alcance delas...

Por aqui, estão todos bem, com saúde e gratos por isso. Trabalhando muito. Ninguém ganhou na loteria. Mas continuamos tentando, repetindo os jogos que deixou. O sofá preto não foi retirado da copa. Seria uma afronta à memória. Mas outras coisas, aos poucos, vão ganhando novos contornos para deixar o ambiente mais leve e moderno. Nada de acumular. Nas datas importantes, tento reunir todos e usar bem o espaço que nos deixou. Reforçamos a segurança, porque entrou ladrão. Acredita? Agora, há câmeras por todo o lado.

Seu neto continua bom de bola, só não quer saber de estudar. Não sei como funcionam as coisas por aí, mas bem que podia dar uma força com boas energias para encaminhá-lo na escola. Aliás, mudou de colégio. Voltou para o antigo, onde acredito que será mais feliz. O genro vai abrir um negócio, acho que você iria apoiá-lo, era assim que costumava fazer. A filha mais velha finalmente se mudou. Ia adorar o novo lar, a reforma ficou caprichada, do jeito que ela merece. Estão todos felizes com essa conquista, sua neta, então, nem se fala. Aliás, já é uma bela mocinha.

Ainda não falei da sua companheira de uma vida... imagino que anseie por essa informação.
Está fazendo ginástica e tem mais tempo para cuidar de si mesma e da gente, é claro. O neto mais velho tirou carteira e, agora, está namorando firme. A caçula não para de crescer: alegre, falante e inteligente. As coisas vão se ajustando, como tinha que ser.

Você não ia gostar nem um pouco do rumo que o país está tomando. Apesar de estarem desvendando casos de corrupção e de, pela primeira vez, podermos ver “poderosos” atrás das grades, a crise chegou com tudo. O desemprego cresce a cada dia, partidos se engalfinham, e há uma divisão de classes bem mais acentuada. Enfim, ninguém sabe ainda como vão ficar as coisas. Ficaria revoltado com tanta roubalheira.

Eu? Tenho me esforçado em tentar ser uma pessoa melhor, uma mãe mais calma, e um ser humano menos “encrenca”. Aos poucos, esse seu DNA intempestivo vai ganhando traços mais serenos. Um trabalho diário, de muita reflexão, cujo objetivo é, sem dúvida, o equilíbrio. Sempre penso em você. Sem nenhuma dor, só lembranças. Gosto de fazer isso, principalmente no quintal, aquecida pelo sol da manhã, aquele que gostávamos de pegar logo cedo, depois de ler dois jornais.

Penso que você está bem, que se curou dos males que o levaram. Imagino que esteja forte, saudável, compondo e produzindo ao lado de gente querida. Suponho que tenha se recuperado de antigas mágoas. Desejo, especialmente hoje, que esteja feliz para comemorar sua plenitude. É que aqui seria o seu aniversário. Então, vou tomar uma cerveja, agradecer a você em pensamentos pela minha vida e pela família que ajudou a construir, pelas dificuldades que nos fizeram amadurecer e pelas canções que nos deixou.

Agora me despeço. Qualquer dia escrevo de novo. Palavras de carinho, de lembranças, de novidades. Escritas ao vento... Não duvido do alcance delas. Um beijo, pai. Fica com Deus.

Texto publicado originalmente em 21.8.2015

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