RENATA NUNES

Faces da espera

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 15 de abril de 2016 | 03:00
 
 

Esperar. No dicionário, designa “a ação de ficar em algum lugar até a chegada de alguém ou alguma coisa que se tem como certa ou provável; aguardar”. A palavra também pode significar “contar com”, “ter esperança”. Exprime ainda “ter satisfação em acreditar”, “supor”, “confiar” e até mesmo “emboscar”. Está lá, descrito nos livros ou em uma simples busca na internet. Pois bem, naquele momento, o termo “esperar” não saía da cabeça daquela senhora, sentada num sofá, na sala de espera de um hospital. 
 
Ela era mais uma entre tantos acompanhantes de pacientes. E a eles só restava aguardar. Apesar de não se conhecerem, eram, de certa forma, cúmplices na missão de vencer o tempo. Olhavam as horas passar, se observavam... Ora trocavam palavras, ora optavam pelo silêncio absoluto. Às vezes, pequenas caminhadas dentro do espaço reservado aos familiares e aos amigos ajudavam a conter os ânimos. Tentativas de administrar as próprias angústias, de afastar pensamentos tristes que, vez ou outra, insistiam em rodear as boas expectativas. 
 
É que a espera, apesar de passiva, nem sempre é fácil. Na verdade, não é certa nem linear. Pode ser boa ou ruim, depende dos momentos ou das pessoas. É possível ser leve, doce, bonita e permeada de fé. Assim, passa fácil e com brandura. Mas também pode se apresentar de forma angustiante, complicada, incisiva, dolorosa. Essa não passa. Ao contrário, dói, arde a cada tique-taque. 
 
Às vezes, esperar é sábio, estratégico, necessário. Em outros momentos, aguardar é perder tempo, letargia, “certa burrice”. Então, surge um embate entre o mérito e a fraqueza, sensação que embala conflitos dentro de nós mesmos.
 
No caso da senhora em questão – aquela que aguardava no hospital – a espera era por notícias. Confiava que, em breve, informações de uma enfermeira trariam alento. O marido, companheiro de 30 anos, passava por um procedimento cirúrgico no coração: uma ponte de safena, e ela aguardava o sucesso da operação, determinante para vida do homem que ama. 
 
Ao lado dela, uma jovem fazia anotações num caderno, provavelmente na ilusão de que assim o tempo correria mais ligeiro. Aparentemente calma, escrevia depressa, sem pensar, e despejava no papel palavras que a ajudassem a passar o tempo enquanto a mãe estava no bloco cirúrgico. Dois andares abaixo, no térreo, uma jovem mãe não conseguia conter a aflição (nem as lágrimas): esperava por um leito pediátrico. Foram quase quatro horas até conseguir abrigar a garota com baixa imunidade. Agora, então, aguardaria a força divina para ajudar na cura da garotinha. 
 
Tem gente que espera a vida inteira por um amor, que, às vezes, nem chega. Espera dolorosa, porém envolta em esperança. A mesma esperança que infla de amor uma mãe ao ter o filho nos braços após aguardá-lo por nove meses. Num contraponto, o velho espera a morte. Resignado, aguarda pelo inevitável, fingindo nem ligar para o encontro derradeiro. O homem espera o emprego. A criança conta com o brinquedo no dia do aniversário. 
 
O jovem acredita num futuro melhor. O medroso confia que, em algum momento, vai se encher de coragem. O povo está ansioso por justiça, espera há anos. Atualmente, aguarda desfechos que o ajudem a voltar acreditar ou desacreditar de vez. Todos esperam ter paciência para suportar o que determina o tempo, com resignação e perseverança. Só não dá para esperar demasiadamente. Vale lembrar que a vida é um fio. Não a espere passar como mero espectador de si mesmo.