Renata Nunes

RENATA NUNES escreve às sextas-feiras. renatanunes@otempo.com.br

Faltam respostas

Publicado em: Sex, 18/03/16 - 03h00
Vivemos tempos difíceis, e disso, pelo menos, ninguém duvida. Só disso, porque, no mais, o momento é de caos. Brasileiros estão divididos – enfurecidos, decepcionados, agressivos, reticentes, assustados, passados e sei lá mais o quê. Está tudo misturado. Cada um enfrenta a situação como pode. Para um lado ou para o outro, há um aperto no peito, uma dúvida sobre o futuro. E agora? Há quem se encha de esperança e veja os últimos fatos como a varrição da corrupção. Outros preferem esperar, estarrecidos ou calados, os próximos atos dessa história que balança um país inteiro.

A Odete não pôde parar na praça para acompanhar o protesto da noite de quarta-feria. Até queria, para tentar trocar ideias com outros manifestantes, analisar se tinha alguém do nível dela: “Queria ver se tinha pobre”, explicou. Mas não deu. Achou mais prudente ir direto para o ponto de ônibus, porque fecharam o trânsito, e, com o engarrafamento, iria chegar muito tarde em casa. Ela mora longe da Savassi. Naquela noite, ainda tinha muito o que fazer: passar roupas, preparar o almoço dos filhos para o dia seguinte e descansar um pouco para o batente que, começaria bem cedo. 
 
Odete é doméstica. Já foi diarista. Ainda está confusa diante de tantas notícias que vê na TV, escuta no rádio e lê nos jornais. Algumas, ela não consegue entender muito bem, mas não desiste de se informar e tentar compreender a loucura da política brasileira. Depois, iria conversar melhor com o patrão, seu Roberto. Ele foi para a manifestação no mesmo momento em que ela seguia para casa. Desceram juntos no elevador. Ele estava comemorando os grampos telefônicos que divulgaram conversa entre Lula e Dilma. Ele odeia a presidente e “a corja”, como costuma falar. A vizinha do apartamento da frente, Helena, também desceu com eles. Ela e seu Roberto vivem se estranhando pelas divergências políticas. Outro dia, lá no play, brigaram feio porque ele bateu panela. No elevador, a vizinha acusou o juiz Sérgio Moro de ser partidário, disse que ele rasgou a Constituição ao divulgar o conteúdo das conversas telefônicas. É convincente, argumenta bem. Ele reagiu, a xingou de “petralha”, e ela rebateu chamando-o de “coxinha”. No meio dos dois, estava a Odete, entre eles e os 14 andares. O tempo curto da descida pareceu uma eternidade.
 
Odete não odeia a Dilma, mas está desapontada com os últimos acontecimentos. Ela já recebeu, em outros tempos, benefícios de programas sociais. Acha que a vida melhorou nos últimos anos. Aumentou o poder de compra, conseguiu ter casa própria. Tinha esperança até começar a crise. Tudo ficou mais confuso, mais caro e mais sombrio diante das denúncias de corrupção. O problema, para a Odete, é que não há só um partido “torto” nessa corda bamba: “Todos os telhados são de vidro”. 
Conheço um pouco a Odete. Sei que ela teve poucas oportunidades, mas não perdeu nenhuma. É mulher valente, batalhou muito – sempre com honestidade. A mesma que faz questão de repassar aos filhos. Assim como milhares de brasileiros, ela deseja respostas. Quer saber como as coisas vão ficar. Se há alguém honesto para assumir caso caia a presidente? Foi isso que me perguntou ontem.
Sinceramente, Odete, não tenho respostas. Escrevo estas linhas, numa quinta-feira, sem saber o que vai ocorrer daqui a alguns minutos. Ando agoniada feito você. Aliás, quando você e outras pessoas lerem esta coluna, pode ser que já tenham rolado novos atos, prisões, conflitos, reuniões secretas, ações judiciais... Enfim, Odete, por enquanto, tudo pode acontecer... 

---

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo mineiro, profissional e de qualidade. Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar.

Siga O TEMPO no Facebook, no Twitter e no Instagram. Ajude a aumentar a nossa comunidade.