RENATA NUNES

Fé como oração

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 25 de março de 2016 | 03:00
 
 

Que nunca te falte fé. E que ela seja condutora das suas ações. Alimente sua coragem e renove, todos os dias, a sua esperança. Seja qual for a sua fé, que ela te fortaleça e, principalmente, ajude a enriquecer sua alma. Nem toda crença é igual, mas acreditar – independentemente da oração, do Deus ou do ideal – significa manter-se firme em seus propósitos, na sua causa, no âmbito de sua essência. Que a fé te reavive e seja a mola propulsora para seguir adiante, mesmo nos dias mais difíceis. E que ela seja também revigorada em atos de amor, de coragem ou em meio à gratidão, à gentileza e às coisas simples da vida.
 
Em tempos de descrença, “quem tem fé, tem tudo”, já dizia seu Altino enquanto seguia, de pés descalços, pelas ladeiras da cidade histórica. Pedra a pedra, o senhor idoso acompanhava o fluxo da procissão. O mais admirável: com passos fortes e disposição de rapaz. Nas mãos, marcas de cera, vindas da vela derretida que carregava. Ainda hoje, recordo-me de quando perguntei a ele se estava ali por penitência, ato comum durante a Quaresma dos católicos.
 
O homem sorriu, olhou-me nos olhos e disse naturalmente: “Estou aqui só pela fé, moça. Pela fé que alimenta a minha vida. Sou muito agradecido por ela”. E, de fato, eu vi a fé nos olhos dele. Era um brilho a mais. Uma coisa de alma, que só pode ser explicada por quem sente. Era a serenidade visível de um senhor humilde que cruzou meu caminho naquela ocasião, uma reportagem na Semana Santa.
 
Ao longo do caminho, de uma madrugada em Sabará, soube um pouco da história de Altino. De quando deixou o Norte de Minas atrás de um amor. Do quanto trabalhou para construir a pequena casa própria. Dos dois filhos que a vida levou, da mulher que ele perdeu para um câncer de mama. Em minutos, contou-me uma vida inteira. De luta e coragem. Ainda assim, ele vivia feliz. Com alegria e vontade de recomeçar a cada dia. Não havia ambições pessoais, mas existiam – naquela altura da vida – projetos: um desejo grande de ajudar o próximo e de viver com a esperança de que algo de bom virá, sempre.

No passar dos anos – seja pelas ruas, no trabalho ou nas relações pessoais –, ouvi falar, conheci e compartilhei muitas histórias de fé como a do seu Altino. Gente obstinada em alcançar objetivos, gente que aguardava o sucesso com absoluta certeza de que ele iria chegar. Vi pessoas que nunca, em momento algum, duvidaram de que seriam felizes, de que encontrariam o melhor caminho para sua realização. 

Convivi com lições admiráveis de puro otimismo. Uma mulher que enfrentou grave doença com a dignidade da fé e que foi contemplada com a cura. Uma senhora que aos filhos ensinou repetidamente a importância de ter fé, como se nela estivesse a maior riqueza de sua família.

Não importa por qual razão a fé vá se manifestar, o importante é que ela apareça. Que venha virtuosa. Manifeste-se da forma mais variada, por intervenções da moral, da razão ou da emoção. Que ela esteja na espiritualidade ou até mesmo nas coisas banais do dia a dia.

Eu tenho fé, embora, às vezes, ela me falte. Nas pequenas ausências, a valorizo ainda mais. E recobro o quanto preciso dela, o quanto ela me ajuda a ser melhor. Quando a gente acredita, o corpo se inunda da energia da alma, e os passos se tornam mais fortes. As ações, mais humanas. Que nunca nos falte fé. E, se ela faltar, que possamos reencontrá-la dentro de nós mesmos.
 
A coluna foi publicada originalmente no dia 3 de abril de 2015.