Opinião

A abolição da escravatura e a falsa liberdade negra

Para derrubar essa grande mentira que divulgaram ao longo de todo esse período já trago logo um dado: cerca de 80% dos trabalhadores resgatados em trabalho em condições análogas à escravidão são negros.

Por Tatiana Lâgoa
Publicado em 13 de maio de 2022 | 03:00
 
 
Tatiana Lagôa

Treze de maio de 2022. Passados 134 anos da abolição da escravatura do país, aqui estamos: livres e sem preconceitos. É isso? Bora comemorar? Óbvio – e infelizmente – que não. Para derrubar essa grande mentira que divulgaram ao longo de todo esse período já trago logo um dado: cerca de 80% dos trabalhadores resgatados em trabalho em condições análogas à escravidão são negros. E, sim, somos a maioria da população no país, mas não somos nem 60% dos brasileiros. Esse número, de cara, já precisa causar um incômodo. Se não causou, senta aí e ouve mais um pouco.  

O motivo de sermos o maior número de pessoas em condições desumanas de emprego e renda diz muito sobre oportunidades no país. Quando houve a abolição da escravatura em 1888, foi mais ou menos assim: “parabéns, vocês agora são livres para viver de vento ou continuar sendo escravos com nome de pessoas livres”. Muitos de nós preferiram sair das fazendas onde trabalhavam e seguiram para regiões periféricas para tentar a vida como dava. Outros permaneceram onde estavam para sobreviver.  

E agora aqui estamos, poucas gerações depois, netos e bisnetos de negros escravizados num passado tão recente, tentando falar em pé de igualdade com uma linhagem de pessoas brancas que nunca foram subjugadas. Avançamos? Sim, demais. Mas estamos muito longe do cenário ideal.  

Só que não posso deixar de lembrar que resistimos, e, graças a isso, existimos. São inúmeras as formas de luta, mas uma que precisa ser exaltada é a capacidade de aquilombar. Essa nossa capacidade de nos unirmos para compartilharmos conhecimento e dividirmos dores e alegrias é o que nos tem ajudado a subir degraus, apesar das dificuldades, que não são poucas.  

Congresso 

E, por falar em aquilombar, amanhã o Coletivo Lena Santos de jornalistas negros e negras de Minas Gerais faz um congresso. Dessa vez, o evento vai ser presencial, na sede da Academia Mineira de Letras, na rua da Bahia, 1.466, no centro de Belo Horizonte, a partir das 14h30.  

O encontro é em parceria com a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e traz duas mesas de debate: “Abrindo caminhos: A presença e o pioneirismo negro nos veículos de comunicação” e “Escolhendo muito bem as palavras: Jornalismo e responsabilidade social”. Para quem se interessou, a inscrição é gratuita e pode ser realizada pelo site https://forms.gle/KHZUbQ73zD3XmWjA6.