Ricardo Correa

Editor de Política de O Tempo escreve todos os sábados. Contato: ricardo.correa@otempo.com.br

Desilusões políticas

Publicado em: Sáb, 28/05/16 - 03h00

Em 1992, quanto tinha apenas 11 anos, fui às ruas para participar de manifestações pelo impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello. Com uma faixa preta em que se lia a expressão "Passando Brasília a limpo", feita por meu irmão mais velho, eu e um amigo de escola saíamos mais cedo da aula no Instituto Estadual de Educação de Juiz de Fora para percorrer as ruas da cidade em manifestações diárias e espontâneas que ocorriam naquele momento. Ali, eu tinha a certeza de que minha luta de criança serviria para moralizar o país. Eu seguia política como adulto, lendo e acompanhando noticiários do tema com os olhos arregalados, mas tinha a ingenuidade de uma criança de 11 anos.

Hoje, quando vejo que milhões de pessoas foram às ruas apostando que a queda da presidente Dilma Rousseff (PT) mudaria o quadro de corrupção sistemática vigente no país, enxergo ali um pouco daquela crença inabalável de que era possível mudar, mas também a ingenuidade da criança que eu era em 1992. Para elas, por vários motivos e, acima de tudo, pela velocidade como as informações são reveladas, a desilusão deve ter vindo mais rápido.

Não há como não imaginar que tinham ficado profundamente frustrados e constrangidos com a divulgação de áudios em que políticos tramam escapar da Lava Jato utilizando o impeachment como tábua de salvação. Ainda que a estratégia tenha sido frustrada e que o governo anterior, igualmente, tivesse integrantes dispostos a idêntica obstrução da Justiça, como outros áudios já demonstraram, a mudança de governo era uma esperança de tempos melhores para muita gente.

Acontece que, de lá para cá, ao contrário do que foi o período de Itamar Franco, o governo Michel Temer deu muito mais motivo para vergonha do que para orgulho. Nomeou sete investigados na Laja Jato para ministérios, ignorou a diversidade social na composição de seus quadros, recebeu como conselheiro na educação um ator que gargalhou na televisão revelando ter praticado estupro e, principalmente, passou a mão na cabeça de um aliado que conspirou contra as investigações hoje realizadas no país.

Romero Jucá disse a Sérgio machado que Michel Temer assumiria o poder para ajudar os políticos a se livrarem da Lava Jato. Disse que, com o peemedebista, ocorreria um acordo para que todos escapassem e que a troca de governo era fundamental para isso. Alguém pode dizer que Jucá não fala por Temer e que os fatos ocorridos na sequência comprovam que não houve sucesso de uma operação abafa. Mas preocupa que a reação do presidente não tenha sido de indignação. Temer parece legitimar o que Jucá diz ao não reagir de forma enfática, ao preferir protegê-lo, ao dar-lhe uma saída honrosa e ao sair por aí elogiando seus serviços. Como pode um presidente enfatizar a "dedicação" e o "trabalho competente" de ministro que disse o que todos ouviram? Temer disse contar com Jucá auxiliando o governo no Congresso "de forma decisiva, com sua imensa capacidade política". Se isso não é uma confissão velada, não sei o que seria...

Após a revelação do ex-deputado Pedro Corrêa, que citou mais de 120 políticos supostamente envolvidos em maracutaias, confessou receber propinas desde a década de 70, de mais de 20 órgãos de governo, fica claro que só a Lava Jato salva..

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