RICARDO CORRÊA

Disputa mais acirrada

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 25 de junho de 2016 | 03:00
 
 

Pouco mais de quatro meses antes da abertura das urnas para a escolha de prefeitos pelo país, o cenário pré-eleitoral em Belo Horizonte indica uma das disputas mais acirradas e imprevisíveis dos últimos anos. A crise política generalizada, o desgaste na imagem dos caciques e grandes partidos e a desunião no grupo hegemônico que se reuniu nas duas últimas disputas em torno do nome de Marcio Lacerda são alguns dos motivos que tornam o quadro particularmente mais complexo em 2016.

Nada é mais relevante neste aspecto que o rompimento entre o grupo do prefeito e o PSDB do senador Aécio Neves. Com Marcio lançando o empresário Paulo Brant e os tucanos buscando outra alternativa, que pode ser o deputado estadual João Leite ou até outro nome, os dois grupos certamente irão dividir votos na disputa eleitoral. Além disso, sem uma clara hegemonia, terão que lutar mais arduamente pelo apoio de partidos médios que sempre se dobraram ao peso da aliança e, agora, acreditam que podem também lançar voos próprios, aproveitando a pulverização.

A escolha de Lacerda demonstra, antes de mais nada, a desidratação do poder do senador Aécio Neves. Em momentos relativamente recentes, era absurdo imaginar que partidos que sempre estiveram em sua órbita fossem se rebelar. Acontece que, desde os tempos em que venceu com facilidade as eleições para o governo do Estado, foi consagrado como senador e bateu na trave na disputa para ocupar a Presidência da República, muita coisa mudou. A sucessão de citações de seu nome por delatores na Lava Jato e a perda de poder no Estado fizeram com que Aécio não fosse mais um aliado irrecusável.

Poucos imaginavam também que, um ano e meio após assumir o Estado, o governador Fernando Pimentel (PT) também chegaria ao período pré-eleitoral tão enfraquecido. Pesam no caso o massacre diário sofrido pela sigla, que a cada dia se revela envolvida em um novo esquema criminoso e as próprias implicações jurídicas advindas da operação Acrônimo que, para muitos, ameaçam até mesmo o seu mandato.

Sem os dois caciques plenamente fortes na disputa, restaria a Marcio Lacerda a decisão de conduzir o processo. Embora tenha passado relativamente ileso à crise que ataca a classe política, por enquanto ele ainda não foi testado transferindo votos. Lacerda foi eleito e reeleito contando, primeiro com Aécio e Pimentel e, depois, com a força única do tucano. Com novos voos, terá que mostrar que é hábil politicamente, o que quase todos a sua volta sempre duvidaram. Também pesa contra Lacerda a crise econômica e a desilusão com o cenário representativo no país, que dificulta a qualquer ocupante de cargo eleger seu sucessor.

Completa o cenário obscuro o fato de outra aliança forte nas disputas anteriores se tornar absolutamente improvável. Após a guerra federal entre PT e PMDB pelo comando do país, que se agravou com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, não há como imaginar que os dois repetirão, em 2016, a união que demonstraram nas três últimas disputas eleitorais no Estado e em Belo Horizonte.

Com uma campanha curta, sem dinheiro e recheada de influências do cenário nacional, uma luta em que nenhum candidato consiga arrancar para vencer em primeiro turno é quase óbvia. Isso explica o fato de que ninguém quer escolher um lado antes da hora. Ultimatos não terão o condão de mudar isso.