RICARDO CORRÊA

Erro de estratégia

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 01 de outubro de 2016 | 03:00
 
 

O modo de fazer política e de disputar eleições no Brasil muda lentamente ao longo dos anos, mas, de maneira geral, os conselhos de marqueteiros seguem mais ou menos a mesma linha quando chegamos à reta final das campanhas. Quando um candidato parece ser inalcançável no primeiro turno, todos buscam fustigar o vice-líder nas pesquisas, dispostos a cavar uma vaga no segundo turno.

De uns anos para cá, com medo da aversão dos eleitores a um nível exagerado de agressividade e do desgaste de um confronto direto, os candidatos adotaram a estratégia em debates de televisão de utilizar alianças prévias e dobradinhas para atacar o rival. Assim, o trabalho mais difícil e arriscado fica para os concorrentes com menos chances de êxito na campanha.

Ocorre que nem sempre a estratégia padrão é a melhor escolha. No caso das eleições de Belo Horizonte, é assustador como os especialistas que auxiliam boa parte dos candidatos não perceberam que estão ajudando o segundo colocado, Alexandre Kalil (PHS), a reforçar seu discurso de campanha a cada debate. O empresário passou a eleição inteira no difícil discurso de que não é político, colocando-se como um adversário dos políticos tradicionais. Ao se unirem contra ele nos debates, seus oponentes o ajudaram a legitimar o que dizia. A cada pancada, Kalil respondia algo como: “olha aí, os políticos estão desesperados comigo”. E, assim, ia colocando na cabeça de cada um que era, de algum modo, diferente deles.

Melhor teria sido que ignorassem o candidato do PHS a cada debate e tratassem de propostas entre eles, como que se dissessem ao eleitor que aquele nome não interessava, que não deveria receber atenção. Com 20 segundos na televisão, se fosse ignorado nos debates e nos bate-bocas de campanha, travado em páginas de jornal e em diversas entrevistas, Kalil não teria muita chance de abrir vantagem. Aos poucos, tragado pelas ondas de campanhas muito mais ricas que a dele, teria perdido oxigênio.

Colocar-se contra os políticos tem um preço para Alexandre Kalil e consequências que podem ser aproveitadas positivamente e negativamente. No segundo turno, não haverá como o candidato do PHS explicar qualquer apoio que venha receber de um dos derrotados na primeira etapa. Se alguém o apoiar, o que deve acontecer no caso do PT e, talvez, do PR, o apoio pode acabar sendo usado pelos adversários, sobretudo no que diz respeito aos petistas, já que os rivais tentam colar nele a imagem de que, no fundo, funcionaria como uma linha auxiliar da legenda. Por outro lado, Kalil fica confortável para, continuando isolado, manter o discurso e alegar que tinha razão ao apontar um acordo dos demais para barrá-lo.

No segundo turno, porém, não bastará a Kalil esse argumento. Com mais tempo de televisão, agendas sendo cobertas pela imprensa diariamente e duelos mais longos nos debates, será necessário se aprofundar em propostas, o que não ocorreu no primeiro turno. A justificativa de que tinha apenas “20 segundos”, que usava ao ser questionado, deixará de existir a partir de agora. João Leite, por sua vez, não terá ninguém para confrontar Kalil por ele. Terá que sair da zona de conforto e partir para o confronto, o que não é sua praia, como se sabe.