Ricardo Correa

Editor de Política de O Tempo escreve todos os sábados. Contato: ricardo.correa@otempo.com.br

Estratégia petista

Publicado em: Sáb, 11/08/18 - 03h00

Ademora do PT em admitir a óbvia inelegibilidade de Lula, se até os últimos dias ainda não havia se refletido nas pesquisas, agora tende a começar a atrapalhar o projeto do partido. Com o início dos debates e a intensificação das sabatinas e do noticiário político, a expectativa é a de que o partido comece a perder espaço para outros competidores que já estão aí há meses fazendo campanha.

O PT logo perceberá que de nada adianta colocar Fernando Haddad (PT) como um falso vice para falar como Lula, pois o cidadão comum começará a perceber que o ex-presidente não faz parte do jogo. Só quem tem a ganhar com isso são Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSOL) e Marina Silva (Rede), herdeiros preferenciais do espólio do presidente.

A situação vai piorar com o fim do prazo para o registro das candidaturas. Haddad nem sequer aparecerá nas pesquisas de intenções de voto para a Presidência da República, que vão povoar quase diariamente os noticiários nas próximas semanas. Por isso, hoje há muita gente no PT ansiosa para que a Justiça Eleitoral dê logo um veredito para o caso, ainda que negativo para Lula, para que o plano B seja efetivado mesmo com atraso.

O debate paralelo feito pelo PT ontem, no mesmo horário do programa da Band, foi um fiasco. Fernando Haddad e Manuela D’Ávila são carismáticos para a militância, mas são incapazes de dividir a atenção com uma rede de televisão e rádio exibindo Bolsonaro, Ciro, Alckmin, Marina e todos os outros. Basta ver o eleitorado petista comentando o desempenho dos adversários no debate de ontem. Estavam todos ligados na televisão.

A sorte do PT é que a derrota da estratégia midiática da legenda foi compensada com uma eficiente articulação política, que isolou Ciro Gomes e Guilherme Boulos e eliminou a candidatura de Manuela. O partido conta com que, órfão de uma candidatura forte em seu campo político, o eleitorado da esquerda migre, ainda que a contragosto e de última hora, para a candidatura de Fernando Haddad.

O PT, porém, parece ter errado também na escolha do candidato. O ex-prefeito de São Paulo nada tem a ver com Lula, ao contrário do psolista Boulos, que assustou muita gente com o quanto lembrou o antigo Lula em alguns momentos no debate da Band. Lá atrás, ao pensar as estratégias da eleição, o PT deveria ter filiado o líder dos sem-teto, que sempre teve mais afinidade com a legenda do que com o PSOL. Vendo o debate da Band pela TV ontem, Lula deve ter percebido isso, mas talvez seja tarde demais.

Embora a direção petista ache que é certa a ida para o segundo turno, muita gente no partido já pensa que não será tão fácil assim. Depois de governar o Brasil por 13 anos e ainda sendo o partido com o maior número de simpatizantes no país, seria um fracasso que a legenda ficasse fora de uma segunda etapa da disputa, mas a chance de isso acontecer não é tão desprezível assim. Se isso ocorrer, Lula tende a ser esquecido em pouco tempo. Por teimosia, as lideranças petistas parecem ignorar esse cenário.

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