Ricardo Correa

Editor de Política de O Tempo escreve todos os sábados. Contato: ricardo.correa@otempo.com.br

Jogadas arriscadas

Publicado em: Sáb, 04/08/18 - 03h00

De nada adiantou o ex-prefeito Marcio Lacerda costurar acordos de bastidores para garantir a maior coligação das eleições de 2018. Veio de cima uma articulação muito mais ampla, envolvendo PT e PSB, que tende a sepultar sua candidatura ainda que ele lute bastante por ela em todas as vias. Fato é que Lacerda foi traído por seu próprio partido, que, assim como o grupo do governador Fernando Pimentel (PT), fez uma jogada arriscada.

No caso do PSB, é certo que o partido escolheu ser uma força regional. Com medo de perder Pernambuco, que tem comandado de forma sucessiva, a sigla abriu mão de uma possível vitória no segundo maior colégio eleitoral. Talvez, de fora, o PSB não tivesse a real dimensão que a candidatura de Lacerda estava tomando. Ou talvez seja realmente um partido pernambucano que, vez ou outra, tenta alguma aventura longe de sua sede. </CW>
Ficar neutro nas eleições nacionais deve custar caro em outros Estados. O PDT, um dos grandes prejudicados com a estratégia costurada entre PT e PSB, tende a lançar candidatos para atrapalhar os socialistas em diversas praças. Além disso, ao fazer um serviço que tenta garantir por mais tempo a hegemonia petista na esquerda, o PSB abre mão de ser protagonista. No dia em que perder Pernambuco, e isso vai acontecer em algum momento, o partido pode acabar.

Já o PT obteve uma grande vitória em nível nacional para esta eleição, mas fez isso à custa de uma das poucas lideranças jovens que conseguiu formar à sombra de Lula.

Marília Arraes tem bastante futuro, mas foi esmagada pela burocracia nacional da legenda do ex-presidente, que, de dentro da cadeia, dá as cartas em um jogo em que a vitória, não sendo a dele, possa ficar com a direita. Se Lula não pode ser presidente, por estar inelegível, melhor para o PT é que a legenda perca o segundo turno para o outro lado da disputa ideológica, mantendo a liderança da esquerda. Assim pensam os petistas que estão no comando da legenda. Não creio que seja o pensamento da militância neste momento.

Se nacionalmente há uma vitória momentânea, em Minas é preciso analisar a estratégia com cautela. Parece bastante arriscada a ideia de alguém que está em segundo lugar nas pesquisas, com alto índice de rejeição, tirar da disputa o terceiro colocado. Com medo de perder a vaga para Lacerda no segundo turno, Pimentel parece ter ampliado as chances de perder já na primeira etapa da disputa. Hoje, parece claro que o eleitorado de Lacerda tem muito mais semelhanças com o de Anastasia do que com o do atual governador.

O PT faz uma análise baseada em tempo de TV. Ainda que não tenha o PSB, espera conseguir atrair para sua chapa alguns dos partidos que estavam com o socialista. Outros, porém, devem seguir outros rumos, o que torna a articulação pouco útil para reequilibrar a disputa na propaganda eleitoral. Além disso, o governador desconsidera que a máquina do PSB não trabalhará por ele. Releva o sentimento de desprezo que tende a tomar os eleitores de Lacerda e o quanto isso pode gerar uma procura por nova terceira via. 

Ainda é cedo para medir os efeitos da articulação que pode tirar Lacerda de vez da disputa, mas, por enquanto, Rodrigo Pacheco (DEM) e Anastasia podem ficar mais animados que Pimentel.

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