Ricardo Correa

Editor de Política de O Tempo escreve todos os sábados. Contato: ricardo.correa@otempo.com.br

Perseguidores e perseguidos

Publicado em: Sáb, 13/01/18 - 02h00

Qual a diferença entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC)? Se fizermos essa pergunta aos mais fanáticos defensores de um e de outro, certamente teremos respostas, embora distintas, igualmente contundentes. Petistas dirão que Lula já foi presidente duas vezes e tem uma história política de décadas, enquanto o parlamentar seria alguém que não foi mais do que um militar frustrado, vereador e deputado, e defensor da tortura praticada no regime militar. Bolsonaristas dirão que o deputado federal é um parlamentar que passou ao largo das denúncias de corrupção da Lava Jato e que representa a novidade pela qual a sociedade anseia, enquanto o ex-presidente é um condenado pela Justiça por corrupção, que representa um modelo que quebrou o país e que prega uma ideologia incompatível com um modo de vida moderno.

Notadamente, eleitores de Lula e Bolsonaro tendem a enxergar no outro exatamente aquilo que não querem ser. Mas tanto os candidatos como seus apoiadores parecem tomar posturas parecidas como estratégia eleitoral e de sobrevivência, em meio a uma campanha extraoficial que já está nas ruas e nas redes sociais. O mote de lulistas e bolsonaristas, como o de todo político que vira vidraça, é: estou sendo perseguido. No caso dos dois líderes da pesquisa, a perseguição que eles apontam é pela imprensa.

Para tentar manter seus aficionados ativos em suas defesas, Lula e Bolsonaro usam até expressões semelhantes. Na última semana, o deputado sentenciou: “Só não serei candidato se me matarem ou me tirarem na covardia, por um processo qualquer”. Parece bem o argumento utilizado pelos aliados do ex-presidente, com o discurso de que “eleição sem Lula é fraude”. Afinal, o próprio petista já usou expressão parecida com a de Bolsonaro em conversas com aliados, dizendo que, preso, viraria herói, morto, viraria mártir e, candidato, viraria presidente da República.

É natural que cada um dos postulantes à Presidência busque desqualificar as denúncias que são feitas contra eles. Assusta, porém, que alguns de seus apoiadores, embalados pela militância paga que toma conta das caixas de comentários em portais de notícias, continuem a reverberar esse discurso de perseguição sempre que seu patrimônio ou suas ações no mínimo suspeitas sejam questionadas. Para eles, todos os jornais recebem dinheiro para falar mal de seu candidato e bem de seus adversários. Os alvos são os mesmos jornais. Só muda a ideologia na cabeça de quem acusa.

Há também o mote da perseguição judicial. Lula é expoente máximo dessa estratégia, que não é muito diferente da que é utilizada por aqueles que o PT combate. Michel Temer (MDB) e Aécio Neves (PSDB) se diziam perseguidos pelo ex-procurador geral da República Rodrigo Janot. Ambos andam pelos cantos reclamando de decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Bolsonaro também já o fez, quando foi condenado por ofender a colega deputada Maria do Rosário. Repetiram Eduardo Cunha (MDB), contra o juiz Sergio Moro, e Sérgio Cabral, contra o magistrado Marcelo Bretas. Atualmente, no Brasil, homem público só não reclama da decisão de Gilmar Mendes.

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