Ricardo Correa

Editor de Política de O Tempo escreve todos os sábados. Contato: ricardo.correa@otempo.com.br

Quem restará para 2018?

Publicado em: Sáb, 30/07/16 - 03h00

Líder nos cenários de primeiro turno das pesquisas eleitorais para 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se tornou ontem réu na Justiça federal, acusado de articular pelo silêncio de Nestor Cerveró. Mesmo os mais confiantes petistas sabem que é muito provável que dois longos anos sejam suficientes para que o processo seja concluído. A não ser que alguém se interesse em para-lo pelo caminho. A chance de Lula ser condenado em primeira e em segunda instância antes da disputa é real. Se isso ocorrer, o fundador do PT estará fora da eleição, na melhor das hipóteses para ele. Na pior, estará também preso.

O PT não tem alternativas para seu lugar. Os que ensaiaram algum destaque nos últimos anos hoje estão em situação delicada. Fernando Haddad terá enormes dificuldades até para se reeleger à Prefeitura de São Paulo. Aloizio Mercadante foi acusado de maracutaias semelhantes às de Lula, para tentar brecar a Lava Jato. Os ex-ministros Jaques Wagner e José Eduardo Cardozo também. O governador Fernando Pimentel pode até nem concluir seu mandato, por força das investigações da Acrônimo. Não sobra ninguém.

A situação não é diferente no PSDB. Aécio Neves, massacrado por uma delação atrás da outra, não deve ter destino muito distinto do de Lula. Na melhor das hipóteses, para ele, será esquecido. Candidatura à Presidência, a essa altura, é algo absolutamente improvável. Ontem, surgiram informações de que a Odebrecht também promete incriminar o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), que já vinha em franca decadência de popularidade desde que meteu os pés pelas mãos na discussão sobre o fechamento de escolas naquele Estado. O ministro José Serra, atingido lateralmente no escândalo do superfaturamento de trens durante seu governo, também anda com o nome aparecendo por trás de tarjas pretas em perícias da Lava Jato. Teria sido citado pela OAS no acordo de delação.

No PMDB, não é de hoje que os principais caciques andam com o nome queimado. Com o cargo na mão, Michel Temer (PMDB) poderia até sonhar em disputar a reeleição. Um governo fraco, nas mãos do Congresso e as citações de pagamento de caixa 2 feitas por Sérgio Machado em sua delação já seriam suficientes para deixá-lo mais longe de qualquer sonho futuro. A decisão da Justiça Eleitoral que o transformou em ficha suja, porém, encerra o debate. Temer não pode ser candidato e só poderia entrar na disputa se a legislação fosse rasgada.

Com os velhos partidos desgastados, nem mesmo a Rede Sustentabilidade, que surgiu prometendo se contrapor a todos eles, poderá disputar de cara limpa. Assim como os demais, Marina Silva é um nome aparecendo em negociações de acordo de delação, por conta de um suposto caixa 2 para sua campanha em 2010, negociado pelo vice em sua chapa, Guilherme Leal, e por membros do PV, seu partido à época.

Denúncias costumam aparecer em véspera de campanha. No caso de todos os citados, porém, todas vieram muito antes. Todos vivem hoje entre a cruz e a espada. Se 2018 chegasse logo, ao menos o vencedor teria chance de escapar de punições enquanto cumprisse o mandato. Por outro lado, talvez seja necessário um tempo maior do que dois anos para que os eleitores tirem da cabeça tantas citações negativas dos últimos meses. Os maiores partidos correm o risco de ficar sem opções.

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