Ricardo Lebourg Chaves

Advogado, professor de direito e cristão gnóstico

Ricardo Lebourg Chaves

A franco-maçonaria como religião

Publicado em: Seg, 03/02/20 - 03h00

Para alguns teólogos modernos, a franco-maçonaria surgiu durante a Idade Média, na Europa, e suas origens religiosas estão, de certa maneira, vinculadas ao surgimento e ao consequente desenvolvimento do teísmo e da própria diversidade espiritual europeia, pois essa irmandade fraternal defende, desde seu início, o respeito à democracia e à liberdade de culto e de crença religiosa. Nesse sentido, a chamada “maçonaria universal” é fundamentada, em sua mais pura essência filosófica, no sagrado, no místico e no esotérico. Assim, podemos afirmar que essa organização espiritual e iniciática trabalha sob o manto e invocação do Grande Arquiteto do Universo (Gadu), o qual pode representar, em respeito ao ecletismo religioso, Yahweh, Deus ou Alá, entre outras divindades.

Além disso, essa organização também adota como símbolos sagrados o Livro da Lei e o esquadro e o compasso. Nesse contexto, o esquadro representa, sem dúvida, idoneidade, retidão, moralidade, bem como as coisas concretizadas pela ciência matemático-geométrica. O compasso, por sua vez, é outro símbolo místico marcante dessa organização sociorreligiosa e representa, sobretudo, a espiritualidade, o metafísico e o sobrenatural. Segundo ainda alguns esotéricos, o esquadro e o compasso podem significar, igualmente, a dualidade existente entre o mundo material humano e o mundo espiritual divino, o que está, por exemplo, em perfeita sintonia com as revelações trazidas pelo Cristo, pois o apóstolo Paulo ensinou ao povo de Corinto que “existem corpos terrestres e corpos celestes, mas uma é a glória dos celestes, e outra a dos terrestres” (1Co 15:40).

No que tange à Santíssima Trindade, a maçonaria adota, em princípio, uma visão teológica e filosófica totalmente distinta do cristianismo, uma vez que a trindade maçônica não representa pessoas divinas, mas valores éticos e morais. Assim, e de acordo com alguns pesquisadores, a trindade maçônica representa, de fato, as principais virtudes morais que devem ser seguidas e realizadas pelos devotos da maçonaria, ou seja, a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Malgrado essa afirmação, outros teólogos entendem que essa visão trinitária também engloba outros valores morais, como a justiça e a tolerância.

Não obstante o grande sucesso alcançado no mundo ocidental, oriental e asiático, a maçonaria teísta, espiritualista, mística, esotérica e iniciática encontrou, por vários séculos, grande resistência por parte de outros segmentos religiosos. De fato, as Igrejas Católica e Evangélica perseguiram e condenaram a franco-maçonaria como fenômeno sociorreligioso, acusando-a, injustamente, da prática de bruxarias e de heresias. Por fim, devemos ressaltar, ainda, que a religiosidade maçônica representa a eterna busca pela evolução ética, moral e espiritual da humanidade, uma vez que o próprio Cristo nos ensinou: “Sede perfeito como é perfeito vosso Pai celestial”, ou seja, o Gadu (Mt 5:48).

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