Ricardo Plotek

Ricardo Paes Leme Plotek, subeditor de Esportes de O TEMPO

Calma, coerência e planejamento

Publicado em: Sáb, 10/06/17 - 03h00

O Campeonato Brasileiro mal começou e muita gente já contesta o trabalho dos técnicos dos dois principais clubes de Minas Gerais, coisa normal para a torcida, para torcedores disfarçados de comentaristas e para comentaristas que jogam para a torcida.

Claro que não é hora de trocar os treinadores, principalmente o do Atlético, que terminou a primeira fase da Libertadores como o melhor time e tem a vantagem de decidir em casa todos os mata-matas, enquanto seguir na competição. Mas isso não quer dizer que o trabalho deles não possa ser questionado.

Não custa lembrar que o Corinthians manteve Tite quando o time – com Ronaldo Fenômeno – conseguiu a proeza de ser eliminado na pré-Libertadores de 2011, pelo Tolima, da Colômbia, feito único até hoje para times brasileiros. No ano seguinte, a equipe venceu a Libertadores de forma invicta e, depois, o Mundial de Clubes da Fifa, com o mesmo Tite.

No futebol não existe fórmula pronta, mas tem que existir convicção no que se faz, e foi isso, presumo, que tenha feito a diretoria do Timão bancar o treinador à época.

Devem ter visto que o hoje inquestionável comandante da seleção brasileira tinha potencial e competência para atingir o patamar que, atualmente, todos conhecemos.

Como gostam de dizer os boleiros, o dia a dia do treinador conta muito na hora de definir seu futuro. Mas quem não tem acesso ao dia a dia, conta “apenas” com o desempenho nos jogos e, mais do que isso, com os resultados obtidos dentro de campo.

Quem diria que, após cinco rodadas do Nacional, Flamengo, Atlético e Palmeiras – dados como os maiores favoritos ao título antes de a competição começar – seriam os primeiros times fora da zona de rebaixamento. Por isso o futebol é, disparado, o esporte mais popular do mundo.

Roger Machado e Mano Menezes devem continuar em seus cargos, mas precisam dar mais estabilidade para suas respectivas equipes, que, se não vão brigar contra o rebaixamento, começam a dar sinais numéricos visíveis de que também não vão lutar pelo título, ainda mais que, daqui para frente, os campeonatos se afunilarão e a maratona de jogos será cada vez mais estafante, com o Galo também na Libertadores e na Copa do Brasil, e a Raposa, “só” na Copa do Brasil.

“Mas ainda é muito cedo”, podem dizer alguns. Três pontos nas primeiras rodadas valem a mesma coisa de que três pontos conquistados nos últimos duelos. Parece clichê, e é. Mas os times que melhor incorporaram esse clichê foram os que estão vencendo o Brasileiro na era dos pontos corridos, com exceção do Flamengo em 2009, que aproveitou uma vacilo monumental do Palmeiras.

Trocar de técnico, só quando o caso for irreversível, como em 2010, quando Vanderlei Luxemburgo rebaixaria o Atlético para a Série B. O astuto Alexandre Kalil percebeu isso e o demitiu a tempo de salvar o clube de uma segunda queda em cinco anos, o que poderia ter mudado o destino do Atlético, que se manteve na elite e voltou a ser gigante, com conquistas históricas e inéditas nos anos seguintes.

Agora, o que precisa ser bem medido pelos dirigentes é até que ponto clubes como Atlético e Cruzeiro se contentam em participar do Brasileiro dando-se por satisfeitos por não correr risco de cair.

Pelo investimento que fizeram e pelas expectativas que criaram, acho muito pouco, mas não conheço o tal do dia a dia de seus treinadores.

Justiça seja feita. Eduardo Maluf foi um dos grandes responsáveis pela era de ouro do futebol mineiro no cenário nacional e internacional – neste caso com o Atlético – nos últimos anos, desde a conquista da Tríplice Coroa pelo Cruzeiro, em 2003, até a Libertadores de 2013, com o Atlético. Sem falar na épica final da Copa do Brasil de 2014 entre os arquirrivais de Belo Horizonte.

Estilo. Sempre solícito, educado e calmo com a imprensa, o dirigente era tido como um dos melhores, senão o melhor gestor de pessoas do futebol brasileiro, sem falar na capacidade de contratar. Foi ele quem trouxe o desacreditado Ronaldinho Gaúcho para o Galo. Com sua morte, o alvinegro terá dificuldade para a reposição, que precisa ser rápida, ainda mais com o presidente dividido entre o clube e uma secretaria na Prefeitura de Belo Horizonte.

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