Ricardo Plotek

Ricardo Paes Leme Plotek, subeditor de Esportes de O TEMPO

Razão e emoção

Publicado em: Sáb, 04/07/15 - 03h00

Todo ser humano é movido, basicamente, por duas nuances psicológicas que marcam sua vida, suas ações e suas memórias: a emoção e a razão, ambas importantes, sendo o equilíbrio entre elas uma expertise a ser atingida, mesmo muito difícil de ser alcançada, dada a complexidade da espécie.

Em algumas áreas, a emoção predomina, assim como a razão deve ser mais buscada em outras, mas sempre tendo-se em mente que é impossível agir com 100% de uma ou de outra em determinada situação.

No esporte, não há dúvida que a emoção nada de braçada, assim como nas artes, talvez as duas atividades lúdicas mais representativas da passagem do <FI10>Homo sapiens</FI> pela Terra.

Pena que algumas pessoas com uma história respeitável no desporto nacional preferido não tenham discernimento para entender isso.

Dunga nunca se conformou, mesmo campeão do mundo pela seleção brasileira em 1994, e como capitão do time, em não ser tão cultuado como os craques da equipe de 1982, que encantou não só os brasileiros, como o mundo. Volta e meia, o atual técnico da seleção deixa transparecer todo seu rancor, que se traduz em extrema falta de respeito com jogadores do passado, mesmo que não seja sua intenção.

Muito tenho escrito sobre a quase debilidade cognitiva e cultural de Dunga, uma maneira polida de dizer que ele não tem a mínima condição intelectual para ser técnico, quanto mais da seleção. A cada entrevista, sua gritante limitação salta aos olhos, envergonhando os brasileiros que o têm representando o país mundo afora por meio da seleção, que um dia já foi motivo de orgulho para a ex-pátria de chuteiras.

Dunga não entende, dentre várias outras coisas, que a seleção de 82 está e sempre estará na memória de quem teve o privilégio de vê-la atuar, como eu, por causa da emoção.

Não interessa se ela não foi campeã, o que importa é que aquele time, pelo menos para mim, foi como a primeira namorada, pois despertou sentimentos intensos, como muita alegria e euforia, seguidas de não menos impactantes frustração e tristeza, potencializadas exponencialmente pela efervescente pré-adolescência.

Mas esse tipo de coisa só entende, e mesmo que não entenda, só respeita quem tem o mínimo de vontade para admitir que viver é um eterno aprendizado e que ninguém é dono da verdade.

Eu também queria falar, já que de Dunga, pelo menos por enquanto, não há mais o que dizer, é de Gilmar Rinaldi. O atual coordenador de seleções da CBF disse que vai processar Zico. Segundo Gilmar, o Galinho fez insinuações a respeito do trabalho dele na CBF por causa do recentíssimo passado de Rinaldi, que, do dia para a noite, foi de empresário de jogadores a chefão na CBF, funções que realmente podem suscitar desconfiança, pois uma convocação pode significar valorização muito grande de um jogador e um possível negócio milionário.

Todos têm o direito de ir à Justiça, mas por que Gilmar não pensou melhor antes de aceitar o cargo? À mulher de César, não basta ser honesta, tem que parecer honesta. Estar ao lado de Dunga e de Marco Polo Del Nero queima o filme muito mais do que possíveis desconfianças sobre o conflito ético entre a atual e a ex-ocupação de Gilmar.

Se ele está tão preocupado assim com sua imagem, por que segue na CBF depois de mais um vexame da seleção, desta vez na Copa América?

Vai esperar o Brasil não se classificar para uma Copa do Mundo pela primeira vez, risco que nunca foi tão grande, para pedir o boné?

Vale a pena? Zico é ídolo máximo da maior torcida do Brasil, maior artilheiro do Maracanã (333 gols), maior artilheiro do Flamengo (509 gols), quarto maior goleador da seleção (48 gols) e um cara que só coleciona amigos e idolatria, mas nem por isso pode ser leviano, se é que foi. Processá-lo só aumentará a rejeição a Gilmar Rinaldi e a seus companheiros de CBF, que estão quase como Dilma Rousseff.

Cruzeiro. Após vencer os três primeiros jogos no Cruzeiro, Luxemburgo perdeu os três seguintes. Assim como não dava para se empolgar no início, também não dá para crucificá-lo agora, mas está dando a impressão, ainda mais pelo histórico nem tão recente assim do treinador, que a coisa pode ficar feia pra valer e corroborar que Luxa se transformou mesmo em um técnico que chega para dar uma balançada no elenco, e só.

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