RICARDO SAPIA

Índio não quer apito

O governo do presidente Bolsonaro retirou as demarcações de terras indígenas da Funai e passou a atribuição para o Ministério da Agricultura

Por Da Redação
Publicado em 11 de janeiro de 2019 | 03:00
 
 

Quando Frei Henrique de Coimbra celebrou a primeira missa no Brasil em 26 de abril de 1500, não imaginava que ali no local, quase 500 anos depois, seria feito um shopping para a tribo dos índios pataxó-hã-hã-hãe comercializarem os “artesanatos” para milhares de turistas brasileiros e estrangeiros.

Aproximadamente 500 lojas vendem biquínis, pastéis, bolsas, água de coco, artesanato de madeira etc., mas artigos indígenas não passam de 10%.

As lojas pertencem aos índios, mas são alugadas para comerciantes de todo o Brasil por R$ 12 mil. Isso mesmo, R$ 12 mil por ano, e só negociam dessa forma.

O índio Galdino, que infelizmente foi assassinado, queimado por cinco jovens “playboys” em 1997 em um ponto de ônibus em Brasília, estava lá para a comemoração do Dia do Índio. Ele era o líder dessa etnia que vive no sul da Bahia.

Enquanto aguardava Angelina, que comprava uma saia indígena para Mariana usar no Carnaval em uma loja que tem uma proprietária loira (nada contra as loiras, mas de “pataxó” ela não tinha nada), saí com Lucca, ele na patinete, e fui procurar uma cerveja (aliás, estou de férias). Quando me deparei com um índio bebendo uma latinha e perguntei a ele onde tinha comprado, a resposta veio como uma flecha: “Não trabalho aqui”.

“Sim”, retruquei com o pataxó, que estava todo vestido a caráter, e continuamos a conversa até ele me dizer que estava ali para alugar uma loja para um casal italiano que demonstrou interesse em montar uma sorveteria no local e que a roupa era só para tirar fotos com os estrangeiros.

O governo do presidente Bolsonaro retirou as demarcações de terras indígenas da Funai e passou a atribuição para o Ministério da Agricultura, mas foi criticado. O então candidato Bolsonaro, durante a campanha, disse varias vezes que o índio no Brasil é manipulado e explorado por ONGs internacionais e que temos aproximadamente 1 milhão de índios, que ocupam aproximadamente 15% das terras do país. Foi massacrado pela imprensa.
 
Resolveu criar, em forma de medida provisória, um dispositivo que prevê o monitoramento de organismos internacionais e organizações não governamentais entre as atribuições da Secretaria de Governo da Presidência, e foi novamente execrado.

Ora bolas, o que quer o índio? Com certeza, índio no Brasil não quer apito.