Ricardo Sapia

Ricardo Sapia, apresentador do Alerta Super, escreve todas as sexta-feiras

O último discurso

Publicado em: Sex, 14/12/18 - 02h00

Está chegando o fim do ano, e as falcatruas dos políticos continuam inesgotáveis. Nesta semana, depois da descoberta das transações milionárias encontradas na conta do motorista do filho do presidente eleito Jair Bolsonaro, tivemos os mandados de busca e apreensão nas residências do senador Aécio Neves. Além dele, vários outros nomes da política nacional e estadual foram convidados a comparecer às sedes da Polícia Federal: os senadores Agripino Maia, do DEM do Rio Grande do Norte, Antonio Anastasia, do PSDB de Minas Gerais, além dos deputados Cristiane Brasil, do PTB do Rio de Janeiro, e Paulinho da Força, do Solidariedade de São Paulo. Já em Minas, estiveram visitando a sede da PF o braço direito no governo Aécio, Danilo de Castro, e a irmã e o primo do senador, Andrea Neves e Frederico Pacheco, que já estiveram presos por ligações não explicadas com a JBS no ano passado.

Em seu último discurso no Senado, já em tom de despedida, porque no ano que vem ele assume uma cadeira no Congresso como deputado federal por Minas Gerais, Aécio disse: “Tenho vivido dias extremamente difíceis, vocês podem imaginar, mas não perco a minha fé”. Ele falou ainda que vai defender a honra dele e a da família e que essas delações contra ele são o “verdadeiro teatro do absurdo”.

Assumiu a culpa de ter pedido dinheiro emprestado ao então presidente da JBS, Joesley Batista, para pagar o advogado, mas não explicou os R$ 128 milhões pagos pela JBS a ele e ao grupo a que ele pertence entre os anos de 2014 e 2017. Tentou explicar que a “mesada” de R$ 50 mil era paga para a rádio da família como forma de propaganda da empresa do ramo alimentício de carnes.

Sou jornalista há quase 30 anos, trabalhei em vários meios de comunicação, TV, rádio, jornal impresso, e confesso a vocês, meus caros leitores, que R$ 50 mil de propaganda de uma única empresa para fazer mídia em rádio chega próximo ao absurdo, mas, de qualquer forma, qualquer mídia que roda nos veículos de comunicação tem que ter uma série de documentos, começando com o PI (pedido de inserção), que é enviado ao cliente – no caso, a JBS –, formalizando o contrato de compra de mídia no veículo – no caso, a rádio da família – autorizando o início de uma veiculação aprovada. Até hoje não vi esse comprovante. Aliás, nem eu, nem ninguém, e, se o senador quer provar a inocência de todos os crimes dos quais está sendo acusado, poderia começar divulgando esse documento. Para complicar mais ainda a vida e os dias difíceis que ele mesmo fez questão de citar no discurso da última quarta-feira, alguns membros do PSDB querem expulsá-lo do partido.

A que ponto chegou o “jeito Aécio de fazer política”, que era quase uma unanimidade política no Estado, conquistou mais de 50 milhões de votos há quatro anos e agora se elegeu deputado com pouco mais de 100 mil votos em uma campanha escondida pelo próprio partido, mas que, como disse o senador Anastasia, afilhado político de Aécio que perdeu as eleições para o governo para o então desconhecido Romeu Zema: “Paguei por erros que não cometi”. Para quem entende, um pingo é letra.

E assim acaba o ano para o político mais influente do Estado nas últimas décadas.

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