RICARDO SAPIA

Quanto vale uma vida?

Por que a Vale resolveu pagar esse valor quase sete vezes maior para os familiares das vítimas de Brumadinho?

Por Da Redação
Publicado em 08 de fevereiro de 2019 | 03:00
 
 

Uma vida em Mariana vale R$ 15 mil, o mesmo valor a ser pago aos produtores rurais de Brumadinho que perderam as plantações de hortaliças.

O descaso do crime de Mariana é a prova de que o país vivia uma corrente de impunidade, diferentemente do que estamos vendo no crime de Brumadinho.

Quando a barragem do Fundão rompeu, levou, além dos bens materiais e sonhos dos moradores, pelo menos 19 vítimas fatais, 18 corpos encontrados e um até hoje desaparecido.

A empresa pagou, por vida, o valor de R$ 15 mil. Já em Brumadinho, os parentes das vítimas vão receber R$ 100 mil.

Quanto vale uma vida? O mesmo que alguns pés de alface? Para a Vale, parece que sim. Por que ela resolveu pagar esse valor quase sete vezes maior para os familiares das vítimas do crime de sexta-feira retrasada? Pela certeza de que o país está mudando e não teremos mais impunidade.

Imediatamente após o rompimento deste ano, várias ações foram impetradas na Justiça para bloquear verbas da empresa Vale para ressarcir os prejuízos materiais do município. Em Mariana, o prefeito Duarte Junior, que esteve comigo no Alerta Super pela rádio Super 91,7 FM nesta semana, nada recebeu, além de uma promessa não cumprida do ex-governador petista Fernando Pimentel, feita em praça pública no ano passado, quase três anos após a tragédia, durante a mudança da sede do governo para a primeira cidade de Minas em comemoração ao dia do Estado de Minas Gerais, que acontece todo dia 16 de julho, desde 1979.

Na época, o ex-governador ofereceu R$ 30 milhões, mas, até a data de ontem, esse dinheiro não tinha aparecido.

Brumadinho vai receber do Estado toda a dívida que lhe é devida, além de pelo menos R$ 80 milhões da Vale como compensação do Cfem. Isso como um acordo extrajudicial, como uma doação, além do que a Justiça vai decidir daqui a alguns anos. Já Mariana, até hoje não recebeu um centavo sequer.

Na empresa Samarco, além da Vale, que faz parte do capital societário junto com a BHP, uma empresa anglo-australiana, o tratamento com os envolvidos na tragédia é outro. A prefeitura foi obrigada a entrar na Justiça na Inglaterra, sede da BHP, onde as leis são diferentes, o processo corre mais rápido e as multas impostas à empresa são mais justas. Mesmo assim, a empresa pressiona a prefeitura para retirar ação no Reino Unido para fazer um acordo por milhões de reais a menos.