ROBERTO ANDRÉS

Mestras

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 08 de março de 2018 | 03:00
 
 

Hoje é o dia internacional de luta pelos direitos das mulheres. Optei por utilizar a coluna para apresentar pensamentos de mulheres que lutam, de maneiras diversas, por cidades mais justas, acolhedoras e diversas. São elas:

Jane Jacobs. Em seus textos brilhantes e sua militância ativa, foi pioneira no debate da importância do contato humano nas ruas:

Sob a aparente desordem da cidade tradicional, existe, nos lugares em que ela funciona a contento, uma ordem surpreendente que garante a manutenção da segurança e a liberdade. É uma ordem complexa. Sua essência é a complexidade do uso das calçadas, que traz consigo uma sucessão permanente de olhos. Essa ordem compõe-se de movimento e mudança, e, embora se trate de vida, não de arte, podemos chamá-la, na fantasia, de forma artística da cidade e compará-la à dança. O balé da boa calçada urbana nunca se repete em outro lugar, e em qualquer lugar está sempre repleto de novas improvisações.

Renata Marquez. Professora da UFMG e colega na editoria da revista Piseagrama, cujo pensamento fino e preciso reivindica a atenção à vida pedestre:

Sempre achei inaceitável a falta de importância conferida, pelos analistas urbanos e planejadores, aos “percursos a pé”, que são normalmente entendidos como precariedade. Todos somos pedestres, mas os deslocamentos a pé são sistematicamente esquecidos nos planos e projetos dos governantes, enquanto poderiam, inversamente, ser entendidos como um dado decisivo para a construção da cidade. Uma outra cidade, naturalmente, na qual os heróis da vida pedestre, que sobrevivem diariamente sem que ninguém pense neles, transformar-se-iam em cidadãos.

Janet Sanz. Secretária de ecologia, mobilidade e urbanismo da cidade de Barcelona, atua na prática com a perspectiva de gênero na mobilidade urbana:

O modelo de cidade tem que incorporar todos as perspectivas. E, historicamente, as perspectivas que prevalecem são muito masculinas. A cidade é muito voltada para o fluxo casa-trabalho. No entanto, nós, as mulheres, somos as que mais saímos e entramos no mercado de trabalho, porque somos mães, porque temos outras prioridades, ou porque cuidamos dos nossos familiares. Ou porque combinamos o trabalho com tudo isto, as duplas e triplas jornadas de trabalho.

Erminia Maricato. Atua na luta pela reforma urbana há décadas e percebeu rapidamente as profundas conexões entre a crise urbana brasileira e as manifestações de junho de 2013:

A vida nas cidades brasileiras piorou muito a partir dos últimos anos da década passada. [...] Nem toda melhoria das condições de vida é acessível com melhores salários ou com melhor distribuição de renda. Boas condições de vida dependem, frequentemente, de políticas públicas urbanas – transporte, moradia, saneamento, educação, saúde, lazer, iluminação pública, coleta de lixo, segurança. Ou seja, a cidade não fornece apenas o lugar, o suporte ou o chão para essa reprodução social. Suas características e até mesmo a forma como se realizam fazem a diferença.

Esperança Martinez, ativista indígena que atuou no processo que incluiu os direitos da Natureza na constituição equatoriana:

O reconhecimento dos direitos da natureza a coloca numa posição que vai muito além da condição funcional. O seu propósito não é mais o de satisfazer o desenvolvimento, mas ela adquire direitos de existência próprios. Os direitos da natureza também levantam a questão de quem os defende. Já não se trata de famílias defendendo os próprios interesses em um determinado local, mas de defender o meio ambiente como sujeito.

Áurea Carolina. Vereadora em BH e ativista de direitos humanos, argumenta sobre o papel fundamental dos feminismos na superação de impasses, violências e desigualdades:

Se o mundo fosse feminista, não haveria colapso socioambiental, recessão econômica nem crise de representação política. Ao invés de destruir, explorar e competir, nossas sociedades buscariam cuidar de todas as formas de vida. Não faria muito sentido separar cultura e natureza, público e privado ou razão e emoção, e aprenderíamos que a convivência democrática é condição para a felicidade. Seríamos pessoas mais amorosas.