SANDRA STARLING

Como chegar ao amanhã?

A questão tormentosa é 'como fazer', e não 'o que fazer'

Por Da Redação
Publicado em 27 de junho de 2018 | 03:00
 
 

Busco preferencialmente no pensamento de esquerda saídas para a crise em que o país mergulhou. Não deixo, porém, de visitar algumas grandes cabeças “à direita” porque, mesmo pelo avesso, muitas vezes foi nelas que consegui perceber alguma coisa mais clara sobre a realidade brasileira. Atualmente, todos me frustram. Em particular, a dita “esquerda”, porque rodeia, rodeia e não consegue explicar por que Dilma Rousseff, a despeito do sufoco pelo qual passou em junho de 2013, teria conseguido ser reeleita para, no dia seguinte, escancarar o que escondera na campanha: seu modelo de gestão não havia salvado o país da falência. A verdade é que, se seu afastamento só veio em maio de 2016, menos de 17 meses depois da posse ocorrida em janeiro de 2015, o círculo mais próximo da presidente já sabia que a vaca estava indo para o brejo e começava a discutir a estratégia de defesa contra o tsunami que ainda não se anunciava no horizonte. Dali para o que eles denominam “golpe”, foi uma questão de tempo.

Procurando à esquerda vozes mais sensatas, encontro, agora, na revista “IHU On-Line”, texto de um jovem filósofo e professor, Rodrigo Nunes, que parece ter rasgado o véu de minha ignorância e me fez perceber algo muito explicativo. A geração que ainda tenta liderar o país, a geração da redemocratização, nada diz aos anseios das massas, elas mesmas entregues apenas a intuições de que este não é o país que querem nem para si próprias, nem para as futuras gerações. Padrões organizativos de antes não funcionam mais frente à sede pela horizontalidade nos movimentos sociais, que, por sua vez, nada resolvem, porque só pensam em profundidade seus problemas, mas não conseguem pensar totalidades. Por que feministas, ambientalistas, movimentos raciais e população LGBT não conseguem dizer aos que não são como eles algo que leve todos a se empenharem em construir uma forma nova de convivência? Essa é pergunta que faz esse autor. Ou, por outra forma, por que as pautas identitárias não conseguem atrair os que não pertencem a esses grupos e que sentem um vazio de perspectivas? Parecemos, uns e outros, grupos de sonâmbulos vagando na meia-escuridão de filmes sobre invasão de seres de outros planetas...

Entre os presidenciáveis, Marina Silva, presa ainda à forma antiga de partido, repete a mesma cantilena de que vai governar com os melhores de cada agremiação. Mas quem garante que os melhores de cada partido são mesmo os melhores para aquilo o que o país precisa? E quem diz quem são os melhores? Ela mesma e a pequena entourage a sua volta? Todos parecem ter a mesma pauta, mas ninguém consegue explicar direitinho como chegar a concretizar ações da magnitude de reformas reais e efetivas, por exemplo, nas áreas política, tributária e de seguridade social, que impliquem mais democracia e mais justiça social, sem prejuízo das necessidades de investimento, inclusive em educação, que nos levem a mais emprego e renda.

Em suma, a questão tormentosa é “como fazer”, e não “o que fazer”. Já dizia Beto Guedes: “A lição sabemos de cor/ só nos resta aprender”.