SANDRA STARLING

Deu no 'The New York Times'

O apoio do candidato a Israel e a carta condenatória de Einstein

Por Da Redação
Publicado em 10 de outubro de 2018 | 03:00
 
 

O nome do físico alemão Albert Einstein esteve muito evidente no Brasil nesse último mês de setembro. Há alguns anos, a comunidade hebraica resolvera homenageá-lo, atribuindo seu nome ao hospital que havia construído na cidade de São Paulo, inaugurado em 1971. Seu busto, no hall de entrada do prédio hospitalar, foi exibido nas telas da TV à exaustão. Einstein era judeu e teve de fugir da Alemanha, após a ascensão de Hitler ao governo, em março de 1933, depois que o partido nazista ganhou as eleições.

Trago à tona a memória do autor da Teoria da Relatividade depois de ter lido que apoiadores de um – até o momento em que escrevo – candidato rechaçavam a imputação de “nazista” que lhe foi dirigida durante a campanha. Aquele candidato – diziam seus correligionários – não poderia ser um nazista porque “apoia o Estado de Israel”.

O Estado de Israel, como se sabe, é governado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. “Bibi”, como popularmente é conhecido o político israelense, pertence ao partido chamado “Likud”, originalmente fundado em 1948 por Menachen Begin com o nome “Partido da Liberdade”. Há poucos dias, seu partido apoiou no Knesset (nome dado ao Parlamento israelense) uma resolução que declara Israel um “Estado judeu”. Decisão curiosa, não apenas por ser ofensiva contra cidadãos israelenses de origem árabe, mas por não levar em conta que o reino de Israel, após a morte de Salomão, correspondia aos territórios do norte de Canaã, habitados, basicamente, por galileus e samaritanos, a quem os habitantes do reino do sul, os judeus, dedicavam desprezo e procuravam humilhar. A Samaria era o pano de fundo da vida de um nazareno que os cristãos conhecem bem: falo da história da samaritana junto ao poço e da parábola do bom samaritano.

Por ocasião de uma visita de Menachen Begin aos Estados Unidos, Albert Einstein subscreveu uma carta dirigida ao editor do “The New York Times”, datada de 4.12.1948, na qual se dizia que a agremiação de Begin era “um partido político muito próximo em organização, métodos, filosofia política e apelo social aos partidos nazistas e fascistas”. No referido documento, assinado também por uma judia famosa, a filósofa Hannah Arendt, recorda-se que Begin fez parte de uma organização terrorista responsável pela explosão de uma bomba no hotel Rei David, em Jerusalém, na qual morreram 91 pessoas.

Após descrever as atrocidades praticadas por comandados de Begin contra uma pacífica vila árabe onde 240 homens, mulheres e crianças, absolutamente inocentes, foram assassinados, a carta acrescenta: “Dentro da comunidade judaica eles têm pregado uma mistura de ultranacionalismo, misticismo religioso e superioridade racial. Como outros partidos fascistas, eles têm sido usados para acabar com greves e têm pressionado pela destruição de sindicatos livres”. E advertiam: “A partir de suas ações do passado podemos julgar o que se pode esperar no futuro”.

Não soa como algo conhecido? Contados os votos, só me resta esperar que o mesmo não ocorra no Brasil.