Movimentos não conseguem admitir que outros pensem diferente

Tirem as mãos de cima dos vivos e dos mortos

Redação O Tempo

Por Da Redação
Publicado em 07 de outubro de 2015 | 03:00
 
 

Há anos tento pautar minha vida pelas palavras de Rosa de Luxemburgo: “A liberdade apenas para os partidários do governo, apenas para os membros do partido, por muitos que sejam, não é liberdade. A liberdade é sempre liberdade para quem pensa de maneira diferente”.

A intolerância cresce a cada dia em nosso país. A partir do ano passado, transformou-se em algo praticado à luz do dia, sempre que os que pensam de uma maneira se defrontam com os que pensam de outra forma. Uma coisa é manifestar-se contra ou a favor do que quer que seja. Outra, bem estranha, essa transformação da sociedade em terra de ninguém, onde se lincham pessoas na rua, onde se matam prisioneiros amontoados em celas que não deixam ninguém respirar, onde proliferam arrastões na praia do Arpoador – a linda praia do Arpoador –, onde os rolezinhos nos shoppings caros se transformam em razão para machucar pobres sonhando as vidas dos ricos...

Verdadeiramente assombroso conviver com movimentos que se referem a um “Brasil livre”, mas que não conseguem admitir que outros não pensem como seus integrantes.
O Brasil está ficando fascista.

E nem me venham perguntar quem ou por que começou essa escalada de violência. Aliás, de agravamento da violência, porque o Brasil sempre foi um país violento. Violento com “os de baixo”. Violento com quem não pode dizer “sabe com quem você está falando?”. E hipócrita. A hipocrisia sempre frequentou os salões mais refinados. E a linguagem dos “de cima” já demonstrava isso, como se revela no filme “Que horas ela volta?”, conforme ouvi dizer. Ou na profusão de “malfeitos” com os quais a presidente qualifica falcatruas ou corrupção – já escrevi neste espaço muitas vezes.

Na segunda-feira, eu estava de luto. Falecera no domingo um ex-companheiro de partido, sim, do meu antigo Partido dos Trabalhadores, e meu amigo pessoal. José Eduardo Dutra lutou brava e inutilmente contra um câncer no cérebro. Era companhia para uma cerveja. Uma, não, muitas cervejas, tomadas por qualquer razão, inclusive e principalmente para comemorar as vitórias, poucas, mas inesquecíveis (para ele), de seu Botafogo. Certa vez, convidei-o a vir almoçar em nosso apartamento em Belo Horizonte. Avisou-me ao telefone: “Você não vai me aguentar”. Dito e feito. Chegou pontualmente às 11h30, já carregando algumas cervejas, e tive de pedir delicadamente que fosse embora, nada mais, nada menos, às 3h. Grande José Eduardo. No velório dele, panfletos foram fartamente distribuídos. Dizeres: “Petista bom é petista morto”.

O presidente do STF, ministro Lewandowski, proferiu palestra em Alagoas na semana passada. Foi recebido com gritos de “Supremo, puxadinho do PT”. Não conseguiu falar.

Odeio fascistas, sejam eles quem forem. Deixei de ser petista, mas não tolero que não se possa ser petista. Odeio os que não respeitam a memória dos mortos e odeio quem impede o presidente do STF de falar.

Este não é o meu país.