Serginho do Volei

Serginho Líbero

Olhando de outra forma para os europeus

Publicado em: Sáb, 16/11/19 - 03h00

Quem nunca ouviu dizer que o povo europeu é frio? Hoje vou quebrar essa impressão contando sobre a nossa chegada na República Tcheca. Fizemos o trajeto BH/Guarulhos/Paris/Praga, que fica a 3 horas de trem da minha cidade, Frydek-Mistek. Uma mala de 23kg e uma de 10kg por pessoa é pouco, considerando que a temporada dura oito meses, certo? Pois bem, foram quatro malas de 23kg, três de 10kg, um carrinho de bebê, um bebê de um ano, a esposa e eu.

Após uma longa viagem, ainda restavam três horas de trem. Como carregar sete malas e um bebê do aeroporto para a estação central? Na ocasião, houve um imprevisto e o clube não pôde nos buscar. Recebi um passo a passo até o destino. Desembarcamos, rezei até a última mala chegar e deu certo. Com fome e cansados, paramos no saguão para abastecer o estômago. Já havia me informado sobre o ônibus e estávamos em frente ao ponto. Fila para pegar o ônibus e estávamos igual a um caramujo, com a casa nas costas. Desci as malas, coloquei dentro do ônibus e as pessoas na fila estavam impacientes com a situação. Com a Duda chorando, tirei euros do bolso e o piloto já fez uma careta, balançando a cabeça negativamente. Desesperado, perguntei: – cartão? Em sinal positivo ele apontou a máquina. Procurei a entrada para inserir o cartão e não encontrei. Aqui, basta encostar o cartão que a compra é efetuada automaticamente, muitas vezes até sem digitar a senha. Conclusão: não vai autorizar! 

Guardei tudo no bolso e comecei a tirar todas as malas de dentro do ônibus sozinho, uma a uma, subindo e descendo as escadas. Começamos a procurar a melhor solução para seguir viagem. Precisaria de três táxis para levar tudo o que tínhamos. Inviável. De repente, outro ônibus para no ponto e um tcheco que estava na fila falou comigo em inglês - “pode ir, eu pago para você”. Respondi que éramos três. Ele, já tirando as coroas tchecas do bolso, pediu que eu entrasse e começou a me ajudar com as malas. Sentamos próximos, me apresentei e pedi a ele que me avisasse quando chegasse na estação de trem. Rapidamente, ele respondeu que desceria lá. Meu Deus, obrigado, você desceu na terra disfarçado de tcheco! Eis que chegamos na estação, mas cadê a estação? Tivemos que andar com malas, um carrinho e um bebê até chegar ao guichê para comprar a passagem de trem. Ele, solícito, carregou as malas comigo novamente. Eu estava com vergonha, mas não poderia negar ajuda naquele momento. 

Paguei a nossa passagem e a dele em euros e corremos para a plataforma para embarcar, suando mais do que tampa de marmita de tanto carregar mala. Quando o trem para na estação não temos tanto tempo para carregar as malas para dentro do vagão. Era a penúltima etapa. Para a minha surpresa e, gostaria de enfatizar, ele estava disfarçado de Deus - Honza iria descer exatamente na mesma cidade e estação onde uma pessoa do time estava nos aguardando. Essa experiência me fez olhar com outros olhos para os europeus Acredito que pessoas de bom coração existem em qualquer lugar do mundo!

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